*Por Mariana Pereira – Colaboradora do Futebol Latino
Pois é, torcedor do bem, ser humano racional, pai, mãe, filho de família, você não vai mais poder ir – se é que você já ia – aos jogos do seu time em São Paulo este ano quando ele for o visitante em um clássico. A decisão de representantes da Federação Paulista de Futebol, da Promotoria do Estado, da Polícia Militar e da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo aconteceu após o confronto de torcedores antes e depois do clássico entre Palmeiras e Corinthians, no último domingo (3), que culminou com a morte de um senhor de 60 anos, ainda não identificado.
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Precisou mais um inocente morrer para que esta medida fosse tomada. Falta de interesse? Irresponsabilidade? Jogo do empurra-empurra? Tudo isso somado a terrível ideia de que uma camisa, um símbolo ou uma bandeira faz o indivíduo. O MP também proibiu dentro dos estádios o uso de faixas e adereços das organizadas e implantou a venda online de ingressos para este público feita mediante cadastro prévio.
Desde 2012, o Brasil lidera o ranking de mortes comprovadas de torcedores por conflito entre organizadas. Só no ano passado, 15 pessoas perderam a vida no país, enquanto na Argentina foram 12 e na Itália, nove. E o fato mais relevante: as maiores incidências ocorreram fora dos estádios. Isso comprova a ineficiência do Poder Público em relação a planos estratégicos e efetivos, sejam de curto ou de longo prazo.
Só no último clássico do Pacaembu, que valeu pela 14ª rodada do Campeonato Paulista e terminou com vitória do Palmeiras por 1 a 0, a Polícia Militar registrou quatro confrontos, todos eles fora da área de jogo. O primeiro, que teve uma vítima fatal por arma de fogo, aconteceu em São Miguel Paulista, por voltar das 10h da manhã, seis horas antes do início da partida. O segundo foi na estação Brás de metro, onde os dois grupos se encontraram e houve depredações de trens. Em seguida, desta vez em Guarulhos, mais confusão e muito sangue. Para terminar, o espancamento de um torcedor palmeirense no início da noite, nas proximidades do estádio.
Como de praxe, foram apreendidas barras de ferro e pedaços de madeira, mais de 60 pessoas detidas e…liberadas após prestarem depoimento. Isso mesmo, o possível assassino do pedestre que deu o azar de estar no meio do quebra-pau foi liberado, se é que ele estava entre os detidos. Além disso, torcedores do Corinthians, presos em Oruru suspeitos de matar Kevin Espada, estavam no grupo levados à delegacia.
A Polícia Militar, o Ministério Público, o Governo de São Paulo e até eu e você sabemos exatamente quem são essas pessoas, ou pelo menos boa parte delas, já que seus rostos sempre aparecem em gravações. Os envolvidos na briga do ano passado, do retrasado e deste ano serão os mesmo que irão se envolver no ano que vem ou daqui a 20, se nada de efetivo for feito. Gostaríamos de ir aos jogos que quisermos, andar por onde quisermos, seja de verde, preto, branco ou vermelho. Mas para isso, o Estado precisa deixar de ser refém de um grupo que se diz torcedor, mas que mata quem passa pela frente.
