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De “paparicado” a crítico: O Mário Sérgio que você precisa conhecer

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Foto: Divulgação

Jogador, treinador, diretor, comentarista, homem, pai de família, tudo em um só. Quando o nome de Mário Sérgio Pontes de Paiva vem a tona no mundo do futebol, o respeito adquirido por tantos anos dedicados ao esportes são naturalmente reconhecidos e exaltados, algo que o garoto que, juntamente com seu avô, tinha paixão incontrolável pelo Fluminense jamais imaginaria.

O hoje responsável por analisar as partidas de futebol transmitidas por uma das emissoras de televisão mais assistidas dentre os canais pagos disponíveis em solo brasileiro (Fox Sports) analisa muitos detalhes dentro e fora do futebol latino e brasileiro, em um tipo de diálogo que você provavelmente ainda não teve a oportunidade de conferir quando o assunto é Mário Sérgio.

Mario Sérgio, acima de tudo, tem suas opiniões muito bem definidas quando o assunto recaí sobre futebol brasileiro e mundial nos seus mais diferentes aspectos, tanto dentro como fora das quatro linhas.

E, como não poderia deixar de ser, alguém que entende no futebol argentino como um grande referencial não somente no aspecto da festa e do “alento” incondicional aos seus clubes, mas tudo o que cerca e a maneira como são resolvidas situações problemáticas dentro das instituições.

Confira a entrevista do Futebol Latino com o comentarista da Fox Sports, Mário Sérgio:

FL: Quais seriam os jogos que você coloca como mais emocionantes dentro da sua vivência no mundo do futebol?

Como jogador eu tive três jogos marcantes. Um deles foi um amistoso com o Fluminense no Maracanã com mais ou menos 150 mil pessoas contra o Bayern de Munique de Beckenbauer, Gerd Muller, a Alemanha tinha acabado de ser campeã do mundo em 1974. Nós vencemos por 1 a 0 e eu tive uma atuação excepcional, inclusive o Bayern fez uma proposta para me levar por 1 milhão de dólares. Na época você falava em um milhão de dólares era uma fortuna (risos), mas o presidente (Eduardo) Horta, na época, não quis me vender.

Outros jogos que me marcaram também foi o Mundial Interclubes em Tóquio, pelo Grêmio (2 x 1 contra o Hamburgo, no ano de 1983) e o jogo contra o Vasco, que nós conseguimos o título invicto do Brasileiro com o Internacional. Não só pelo titulo brasileiro que já é grande, mas porque o nosso foi invicto, acho que isso dificilmente alguém vai conseguir até mesmo pelo sistema de disputa atual.

FL: E na Seleção Brasileira, não teve nenhum jogo assim?

Eu nunca fui um cara muito identificado com a Seleção Brasileira até mesmo porque eu era um cara muito paparicado nos clubes que eu jogava. Em tratamento eu nunca tive e nunca teria isso na Seleção, ela tinha outras prioridades como Zico, Sócrates, então fatalmente eu não teria lá o mesmo tratamento que eu tive no São Paulo, no Palmeiras, etc.

Essa diferença, pra mim, tinha um peso muito grande porque eu era sensível a esse tipo de coisa. Era um menino mimado (risos). Até mesmo pela questão de carência, entra em áreas mais complexas, aí já entra quase que uma questão de Freud (risos).

FL: Você teve uma saída da Seleção meio polêmica, uma espécie de afastamento que não ficou muito clara…

Nós fizemos um movimento contra a imprensa porque ela começou a bater demais. Mas batiam com razão porque a gente não conseguia os resultados. Aí houve o movimento de um grupo e os mais visados foram aqueles que pagaram né, eu, Vladmir, Edson e Reinaldo.

A mim isso não era novidade porque já tinham me cortado em 1982 mas nessa época (1985), realmente, eu fui convocado porém já não tinha mais a identificação com a Seleção. Se já não tinha mais nada antes, quando era mais jovem, nessa época do corte eu não tinha mesmo, até porque eu já tinha 35 anos, vinha de um caso de doping onde eu cumpri a pena mínima de três meses…

Eu fui convocado mesmo porque o Evaristo (de Macedo, técnico da Seleção em 1985) foi ver um jogo meu pelo Palmeiras contra o Vasco em São Januário onde eu joguei muito bem, nós ganhamos de 1 a 0 e o Evaristo surpreendentemente me convocou. Eu voltei a Seleção quase mandando uma carta renunciando a convocação, mas fui convencido pela minha esposa e, como eu tinha um filho de 12 anos na época, pra ele era importante e, eu vindo de um processo de doping, aquilo seria a volta por cima.

FL: O que você pode falar que exista no futebol latino que seria incapaz de ser detectado no futebol de outros continentes?

Eu falo muito mais especificamente do futebol argentino, eles são referência na América Latina. Eles tem o espírito do jogador profissional. É um defensor da classe, tem um sindicato de jogadores atuante, que defende não só os jogadores argentinos mas também os estrangeiros, defendem os interesses de qualquer jogador.

Eu mesmo tive um caso jogando no Rosario Central onde eu não estava recebendo em dia salário e o pagamento de luvas, então eu procurei o capitão do time, o informei e ele foi até a diretoria ameaçar o clube de greve caso eu não recebesse. Depois disso o pagamento foi feito sem problema nenhum, isso jamais aconteceria aqui no Brasil. E competitivamente, o jogador argentino é extremamente competitivo e ele não é desleal, ele é viril.

Falando da minha época, já que hoje temos um monte de câmeras e o tribunal fazendo um monte de besteira, você tem que estar alerta, já que você está exposto a muita coisa. Na minha época não, “o pau comia” mesmo e nós éramos muito mais maldosos do que eles. Eu, por exemplo, fiz muitas vezes em casos onde você estava apanhando em um jogo, dava o revide e o jogo corria solto. Só se fosse algo escandaloso, alguém sangrando, quebrar a perna do adversário alguém via, mas lances mais ríspidos o juiz deixava andar.

FL: Aproveitando essa questão extra-campo, adequar o calendário brasileiro ao futebol europeu seria um ponto que atrapalharia menos os clubes ou é somente uma questão econômica?

É uma questão econômica mas coincidir a abertura de janelas, você desarma um time vendendo jogadores importantes no meio da competição, você teria como se planejar melhor quanto a isso. Eu acho que seria muito mais inteligente (adequar o calendário) até porque cada vez mais o futebol é isso aí, é venda de jogadores, principalmente exportação de jogadores de base, jogadores profissionais. Eu acho que a coincidência de datas de início e término seria ótimo nessa parte comercial.

Os clubes daqui eram mais reconhecidos mundialmente porque participavam muito dos torneios na Europa justamente nessa época de volta das férias dos jogadores. Santos e Botafogo, na década de 60, viviam participando desses torneios. Isso dava uma visibilidade muito grande para o nosso futebol, valorizava demais o nosso futebol e isso parou de existir em função do calendário. Se o calendário coincidisse poderíamos ter a participação dos nossos times lá fora.

Isso aconteceu agora nos Estados Unidos por que os Estados Unidos deram essa abertura em função de torneios que acontecem lá coincidindo com a pré-temporada, então você encaixa a sua pré-temporada sendo realizada no exterior, nos EUA mais especificamente, muitas vezes fazendo permuta. Muitas vezes você ganha alguma coisa nesses torneios de pré-temporada e faz torneios com times de alto nível.

Esse ganho é algo que sempre pleiteamos, que eram as férias dos jogadores de 30 dias e 25 dias de pré-temporada, isso provou que tem um ganho tremendo. A participação dos clubes nas competições é mais efetiva, é de nível melhor.

Aí a gente reclama do calendário e vem a Copa Sul-Minas-Rio… são contradições que a gente não entende. No momento em que você está pra equacionar, pra enxugar. “Ah, mas são cinco datas”. Mas são cinco datas que vão interferir. E não tem como acabar com os estaduais porque os Estaduais tem toda uma tradição e, no momento em que você faz esse tipo de diferença, você está elitizando. E aí o que você vai fazer com os jogadores que ganham dois salários mínimos?

FL: Os clubes brasileiros reclamam demais da Conmebol pelo fato deles lutarem para se classificar a Libertadores e não terem uma boa compensação financeira. O que você tem a dizer sobre isso?

Falta firmeza dos clubes porque, se eles reunissem e pressionassem a Conmebol por bolsas melhores , obviamente eles vão ter que ceder. Porque se os principais clubes se negarem a participar da Libertadores… inclusive houve uma época lá atrás que os clubes brasileiros não davam a mínima importância.

A Conmebol tem uma receita enorme com a Libertadores, logo ela tem interesse que os clubes participem, principalmente os mais tradicionais como Boca, River, Flamengo, Palmeiras, Santos etc.

No momento em que você se mobiliza em conjunto com os outros clubes, não só os mais tradicionais mas também com os outros clubes que participam da Libertadores e também de outras competições sul-americanas, se fizerem um movimento forte para que se aumente esses valores, eu acho que a Conmebol não resiste, ela vai ceder.

FL: Os casos de corrupção de vários dirigentes que recentemente tomaram as notícias esportivas dão uma certa desanimada para quem vive do futebol?

Acho que não desanimada, mas sim faz com que você reflita em várias coisas. Eu vejo opiniões de várias pessoas de outros canais também e isso me traz bastante um sentimento de revolta porque, muitas vezes, as pessoas ficam injuriadas com um caso de fair play ou não, que é algo opcional e que não está na regra, mas não fica com os casos de corrupção que não estão só no futebol mas também em outras áreas no mundo inteiro, isso não é só nosso privilégio. É geral. Isso é um absurdo.

Essa demagogia que existe de todo mundo querer ser santinho, o politicamente correto, é algo muito chato. Graças a Deus que não minha época não existia isso não.

FL: Isso tem estragado o futebol atualmente?

Eu acho, porque os arautos da moral estão espalhados em grande quantidade e, em alguns casos, a pessoa pega o microfone e fala na frente da câmera como se fosse o melhor, que nunca errou, falando de coisas pequenas. Sendo que existem coisas muito piores que fazem muito mal não só ao futebol mas ao ser humano e que ele simplesmente passa por cima, não liga.

FL: Qual foi a sua primeira impressão ao saber da candidatura do Zico a possibilidade de candidatura a presidência da FIFA?

De que não iria dar certo. É um esquema super, hiper-armado há décadas e décadas, você acha que eles iriam deixar alguém que não seja do meio? Eu fico feliz por um lado porque o Zico é um cara que eu conheço, é um cara super honesto, um cara sério e a gente vê que muitos outros grandes ídolos de outros países estão envolvidos nessa corrupção. Ou estão pelo menos sendo citados e em casos de relevância.

Esse orgulho eu tenho, que é Zico e Pelé, os dois maiores ídolos do futebol brasileiro que eu considero, nunca estiveram envolvidos em casos de corrupção. O mesmo já não pode ser dito de ídolos de outros países, países de primeiro mundo inclusive, então ter esse orgulho de não ter esses ídolos envolvidos em corrupção já me basta.

FL: Aproveitando o assunto de dirigência, você acha que o Romário seria um bom candidato a CBF?

Eu não acredito não. O político é o político, ele conseguiu lá uma expressiva votação de mais de 4 milhões de votos, que dá a ele uma representatividade muito grande junto ao povo, mas isso não quer dizer que ele venha a ser um bom presidente da CBF.

Eu acho que, para você atingir esse estágio, você tem que ter toda uma história como dirigente, com trabalhos bem feitos, e ele não tem, o histórico dele é nenhum. Nem como político nem como dirigente de um clube ou de uma entidade como a CBF, que é a entidade máxima do nosso futebol. Então é muito legal você com imunidade parlamentar ficar “dando porrada” nos outros e ficar só nisso.

Eu sinceramente não me lembro de nenhum projeto social ou projeto importante que ele tenha feito de relevância que ele tenha colocado e que tenha sido aprovado ou mesmo que já esteja em vigor. Só o vejo “dando porrada” em todo mundo.

FL: Existe alguém preparado na sua visão para assumir hoje a Confederação Brasileira de Futebol?

Eu acho o Raí, conhecendo a pessoa porque tivemos a oportunidade de jogar juntos quando ele ainda era muito novo, é um cara seríssimo, o Leonardo é um cara super preparado, tem tudo pra ser um grande dirigente. Nós tempos pessoas.

Você não pode escolher uma pessoa pensando: “Ah, esse cara jogava muito”. Não, o cara tem que estar preparado, tem que estar acostumado com gestão. E quem está acostumado com gestão? O Raí tem a sua Fundação (Gol de Letra) que ele já vem há anos trabalhando com isso, o Leonardo já foi diretor de clubes importantíssimos na Europa em várias funções, então são caras que são preparados.

Eu inclusive esperava que o Leonardo ocupasse o cargo que atualmente está o Gilmar Rinaldi, acho que ele seria unanimidade. Acho que, se buscasse um nome ideal na imprensa, ele seria um nome ideal. Nada contra o Gilmar Rinaldi, só acho que exista um conflito ético no fato dele ser diretor de seleções e empresário, acho que isso atrapalha. Mas não tenho nada contra a pessoa, inclusive ele é meu amigo.

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