bonus de cadastro

Um panorama do torcedor no retorno do Santa Cruz a elite do Brasileirão

Santa-Cruz-retorno-a-Série-A-relato-Futebol-Latino-25-11
Foto: Reprodução/Site Oficial Santa Cruz Futebol Clube

*Por Bruno Lima – Torcedor do Santa Cruz

ETERNO!

“O Santa Cruz nasceu e viverá eternamente” – Alexandre Carvalho, um dos
fundadores do clube em 1914.

Leia mais: Apesar de febre, Saviola deverá jogar diante do Huracán

Existem clubes que tem a alcunha de “Timão”, “Esquadrão”, “Soberano” etc.

Alguns dos significados da palavra eterno são:

1- Que teve princípio, mas não terá fim.

2 – De duração indefinida.

3 – Que se faz ou se repete amiúde.

4 – Imortalizado, célebre.

O começo da história do Santa Cruz é recheada de dificuldades e sacrifícios, mas também de superação as adversidades. Fundado num pátio de uma igreja por jovens sonhadores, O Santa Cruz rapidamente ganhou a simpatia popular, por aceitar a todos. Sem discriminação de cor, credo ou classe social.

Viveu épocas de dificuldades e glórias, como o primeiro Tri-campeonato Pernambucano na década de 30, a excursão suicida na década de 40 na Região Norte do país, o super-time campeão de 57, a construção do estádio com a ajuda do seu povo nos anos 60, a era de ouro na década de 70 com o Penta-campeonato Estadual e a brilhante campanha no
Brasileiro de 75 que, se não fosse a tendenciosa arbitragem, teríamos conquistado o Brasil.

Mas até aí, uma história gloriosa e vitoriosa de um clube de respeito e tradição. Por ironia do destino, o Santa Cruz se destacaria no cenário nacional e internacional por uma crise. A maior de um clube grande do futebol brasileiro.

Mas se enganam aqueles que pensam que essa história é de tristeza e de amarguras. Bem, na verdade é, mas é também de um final surpreendentemente feliz, como se fosse uma poesia dramática do João Cabral de Melo Neto ou uma das frases irônicas do Nelson Rodrigues.

O Santa Cruz em 2005, por um leve detalhe (Batalha dos Aflitos: Grêmio x Náutico), não faturou a Série B do Brasileiro, mas com o vice-campeonato teve o direito de disputar a elite do futebol brasileiro em 2006.Primeiro retorno a Série A

A partir daí, o Santa não se organizou estruturalmente, e caiu novamente para Série B em 2007. Até aí, normal para um clube que não recebe ricas cotas de TV.

Porém, o que não se esperava era o início da pior fase que um clube grande do futebol brasileiro passaria. O Clube caiu para a Série C nesse ano e, em 2008, por tremendo azar, a CBF criou a Série D do Brasileiro, com o Santa Cruz não conseguindo se manter na Série C e caindo para a Série D.

E ainda veria o maior rival ganhar a Copa do Brasil. Em 2009, um time de Pernambuco jogava a Libertadores da América e o outro a Série D do futebol brasileiro. O verdadeiro submundo do futebol.

Percebam a velocidade em que a tragédia assolou o clube e sua imensa torcida que, ainda sem acreditar no que via, sofria amargamente.

Mas o ponto zero dessa história, pelo menos pra mim, é em 2009. O Clube foi eliminado ainda na primeira fase da Série D, ficando um segundo semestre inteiro sem jogar. Era de fato, uma torcida sem time.

Ainda em 2009, iniciou-se reformas no estádio, pois o mesmo corria risco de não receber mais jogos. O impensável, então, aconteceu. O que faz um ser humano forte não é o quão forte ele bate e sim o quanto ele aguenta apanhar e ainda assim ficar de pé, pronto para reagir. Assim foi com o Santa Cruz e sua imensa, gigantesca e fiel torcida.

Uma torcida que vai pro estádio acompanhar troca de cadeiras, reformas no anel superior, e até mesmo vibrar por troca de gramado. Começava ali, para o Brasil inteiro ver, um legado de uma torcida que é sofrida como muitas, mas comprometidas como pouquíssimas.

Em 2010, o time conseguiu passar da primeira fase da Série D, com médias de público assustadoras, superando inclusive os grandes clubes da Série A. Porém, na segunda fase, depois de uma emocionante vitória de virada para o modesto Guarany de Sobral em um Arruda lotado, o time foi eliminado no jogo da volta por 2 x 0.

A torcida, que saiu em várias caravanas para apoiar seu clube do coração, chorava e amargava mais uma eliminação precoce. O fundo do poço para o Santa Cruz, a agonia
da torcida parecia nunca ter fim e muitos falavam em fechar as portas.Fundo do poço

Mas time grande não morre, e o Santa Cruz já foi sentenciado á eternidade
por um dos seus fundadores. Mais uma vez, a torcida do Santa Cruz comprou a briga. Afinal não existia outra maneira se não acreditar, lutar e perseverar.

Chega-se em 2011 e o Santa Cruz possuía apenas cinco ou seis jogadores profissionais no elenco. Imediatamente a nova gestão começou a trabalhar. Trouxe treinador, jogadores, mudou a forma de se administrar o futebol. Parece que havia-se aprendido um pouco com os erros.

A massa incansável estava sempre com o Santa Cruz. Surpreendeu a todos e ganhou o estadual de 2011, quebrando a sequência do rico elenco do arquirrival Sport. No dia 17 de Julho de 2011, começava a reação. A escalada para o seu retorno. O ressurgimento das cinzas.

Com a enorme fama da torcida do Santa Cruz, o Alecrim/RN, adversário na estréia da Série D de 2011, mandou o jogo para João Pessoa para fazer renda em cima da torcida mais apaixonada do Brasil.

O que se viu foi uma verdadeira invasão, mesmo com uma forte chuva assolando o litoral nordestino, e com pontes correndo risco de cair, o torcida coral colocou 16 mil pessoas em João Pessoa/PB.

Os jogadores corais, mesmo com as dificuldades que enfrentaram como campo cheio de
buracos e intensa lama (típico de uma Série D), o Santa Cruz saiu vitorioso por 3×1 para felicidade da massa tricolor.A retomada

O que se viu depois daí, foi uma verdadeira guerra onde a torcida comprou a briga. Jogos em campos sem as mínimas condições de jogo. Estádios de difícil acesso, estradas sem calçamento. O Clube que não disponibilizava de recursos financeiros da CBF, se virava sozinho com os custos da equipe que, em meio a toda aquela crise, tinha que alojar a
equipe e comissão técnica em pousadas simples e não em hotéis confortáveis como vemos nas grandes competições.

Vejam que o Santa Cruz enfrentou tudo isso e sobreviveu. O Santa Cruz mostrava que era maior que toda a Série D. A torcida quando chegava nos interiores do Nordeste, sempre em peso. Em um dos jogos decisivos, contra o modesto Coruripe de Alagoas, a torcida e a imprensa pernambucana sofreram para chegar no estádio devido a uma queimada que
houve nas proximidades do estádio que era numa região de forte plantação.

Em meio a todas essas adversidades, o Santa Cruz segurou o 0 x 0 e foi para a decisão do acesso contra o Treze de Campina Grande.

Após sair perdendo por 2 a 0 no primeiro tempo, a torcida coral que invadia em peso a cidade paraibana escolheu mais uma vez apoiar incondicionalmente e aplaudiu o time, dando o seu apoio. Afinal era tudo ou nada. Não existia outra opção, era a vida do clube em jogo. Em um jogo emocionante, o Santa Cruz reagiu com um gol, tomou outro, e
heroicamente foi buscar o 3 a 3.

No jogo da volta, no Arruda, público oficialmente divulgado de 60 mil pessoas. Mas, conhecendo o Arruda como eu conheço, era mais de 85 mil.

Grades que separavam o estacionamento da sede do clube cediam de tanta gente. Este que vos escreve teve que andar em cima de carro para não ser pisoteado. Na rampa que dava acesso á geral, não sentia mais os pés no chão. A massa me levava até o palco de batalha.O palco das batalhas

E no final, o 0 a 0 mais comemorado da história. Suado, sofrido, lutado, como tudo tem que ser no Santa Cruz. Começava ali a dar o primeiro passo para a redenção do Clube do Povo.

Ainda em 2011, esse episódio foi notícia em diversos jornais do mundo inteiro e o Santa Cruz alcançava a maior média de público do Brasil, e a 39a maior média de público do mundo!

Em 2012, bi-campeonato estadual, confusão judicial que paralisou a Série C e prejudicou o Santa Cruz, onde o mesmo não conseguiu passar de fase.

Em 2013, para o delírio da massa coral, um Tri-campeonato estadual incontestável e entrava com força na Série C do Brasileiro. Era o ano que o nome Flávio Caça-Rato brilhava para todo o Brasil. Foi dele o gol salvador aos 42 minutos do segundo tempo que, diante de um Arruda mais uma vez lotado em sua capacidade máxima, eliminava o modesto Betim e carimbava o seu retorno a Série B do futebol brasileiro. Ainda
ganharia o seu primeiro título nacional ao ser Campeão Brasileiro da Série C.

Á essa altura, o Brasil inteiro torcia para o retorno do Santa Cruz. Para o que seria impossível um ressurgimento, já era visto como realidade. E os amantes do futebol agradeciam por vivenciar algo tão belo, num futebol marcado por muitas injustiças e corrupções.

Em 2014, no centenário do Clube, passamos em branco.

Em 2015, mais um título estadual e a redenção final. Após 10 anos e depois de uma fantástica reação na Série B do Brasileiro, o Santa Cruz carimbava seu retorno á Série A do Futebol Brasileiro, vencendo o Mogi Mirim por 3 x 0 fora de casa.A glória máxima

No desembarque no Recife, os jogadores subiram no carro do Corpo de Bombeiros e viram o “Carnaval fora de época” no Recife. Milhares de milhares de torcedores na ruas, debaixo de um sol escaldante, foram recepcionar os heróis de um povo. Povo que carregou o Clube nas costas nos piores momentos da sua história, e que agora, gozava do seu momento
de glória e de realização.

Para os leitores, deixo um detalhe: Não houve viradas de mesa, e nem favorecimentos por parte da Confederação Brasileira de Futebol. Foi tudo limpo, na bola, no campo.

Isso só reforça ainda mais a grandeza desse gigante do futebol brasileiro, que por sua própria incompetência foi para o fundo do poço. Mas também, com suas próprias forças, emergiu nessa difícil escalada. E a essa massa de mais de 5 milhões de torcedores nunca lhe negou a mão.

Essa é a força de um povo. A força de um clube. Força de resistir que só o nordestino conhece. Fidelidade que beira a religião. Se torna uma filosofia de vida. Um modelo a ser seguido. Afinal, o SANTA CRUZ é ETERNO, assim como sua torcida.

A última vez que vi o esse Clube na Série A foi com 16 anos. Hoje, homem feito de 26 anos, mas com o mesmo coração do menino de 16, volto a ver o Santa Cruz na Elite do Futebol Brasileiro.

Mas dessa vez com um diferencial. O Santa Cruz ganhou algo que vale mais que qualquer outro título. Ganhou o carinho e o respeito do povo brasileiro.

Os Clubes da Série A saúdam o Santa Cruz. Respeitado por onde ele for, amado por sua legião de torcedores, simbolizado pela sua resistência e pelo seu povo. Proclamado ETERNO pelo destino.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Futebol Latino 2023