*Por Gustavo de Moraes
A Libertadores é um momento mágico para todos. Seja para torcedores, técnicos, dirigentes, jogadores. Todo jogador de futebol da América do Sul em sua maioria tem o sonho de jogar a Gloria Eterna. Muitos brasileiros conseguem jogando pelos clubes locais, ganhando espaço e visibilidade. E quando um brasileiro disputa a Libertadores pela primeira vez em um clube que não é tupiniquim? Este é o caso do Vander Vieira, jogador de 33 anos do Always Ready, rival do Internacional nesta noite de quarta-feira (26).
Nós, do Futebol Latino, realizamos uma conversa exclusiva com o jogador e abordamos diversos temas. Entre eles, o jogo desta noite.
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Para entender melhor tudo isso, Vander é do Rio de Janeiro, tem quatro filhos, e foi revelado nas categorias de base do Flamengo, antes disso teve passagens também no Madureira. No clube da Gávea, acabou não conseguindo atuar de forma profissional, partindo então a outros clubes do Brasil e do mundo. Antes de ir ao clube boliviano, o jogador passou pelos brasileiros: Duque de Caxias, Democrata-MG, Ipatinga. Após o Ipatinga, o atleta saiu do clube mineiro e foi para a Bulgária, no Botev Plovdiv. Nele, viveu diversos momentos crucias na carreira.
“A Bulgária é especial para mim. Foi o país que abriu a porta no momento mais difícil da minha carreira. Eu estava voltando o treinamento de campo no Ipatinga e mandaram uma proposta de três anos de contrato. Eu pensei que eles estavam malucos. Eu não estava treinando nesse tempo de recuperação e tive problemas de alcoolismo, depressão, foi muito difícil me machucar em um momento muito bom da minha vida. Quando cheguei na Bulgária só se falava sobre a minha contratação. Diziam que eu era a cereja que faltava no bolo, a pérola. E eu estava recém operado, sem jogar há muito tempo. Eu tenho uma gratidão muito grande por esse clube e se Deus permitir que eu jogue nos últimos seis meses da minha carreira será um prazer enorme. Foi o clube que abriu as portas para a minha carreira. Onde Deus me colocou. Até hoje me ligam, mandando mensagem pedindo que eu volte e espero que eu consiga encerrar a minha carreira no clube”
Após a Bulgária, o jogador passou para o AEK Lamarca do Chipre. E depois foi ao APOEL, principal equipe do país. No clube cipriota, Vieira, disputou a Europa League, Champions League. Inclusive marcando gols nas competições citadas. Em alguns anos, partiu ao Emirados Árabes, no Sharjah FC, indo para o conterrâneo, Ajman Club, até surgir a oportunidade de ir ao Always Ready, no qual detalhou melhor como surgiu a possibilidade.
“Eu tive a oportunidade de renovar no clube que eu estava e acabei não renovando. Teve outras propostas no Emirados Árabes e também no Catar. A janela de transferências fechou e eu não tinha acertado com nenhum clube. A oportunidade para ir a Bolívia chegou através de um dos pastores de uma igreja que pertenço e que é jogador de futebol no Chipre, chamado Eduardo Pincelli, um rapaz tinha entrado em contato com ele. Após isso um outro representante do clube agora da parte das estatísticas conversou com meu representante. Eu e a Caroline, minha esposa, colocamos os planos na mesa, analisamos e fechamos”, detalhou.
Não é novidade no mundo da bola que a principal preocupação de uma equipe brasileira quando joga na Bolívia ou em determinados países é a altitude. Com o clube de Vander a história não é diferente. O Always Ready tem o estádio mais alto da competição atual, cerca de 4.090 metros acima do mar, sendo um dos estádios mais altos do mundo. Mas, por conta da casa do time boliviano não contar com refletores, eles jogam em um local próximo com uma altitude menor, porém, mesmo com a mudança no local das partidas os jogadores sentem o cansaço.
“Quando cheguei aqui foi muito difícil. No primeiro dia eu senti dores insuportáveis na cabeça e no corpo, no segundo eu não consegui dormir. E olha que onde jogamos a Libertadores não chega nem perto do estádio em que jogamos a liga”, disse o atleta sobre as dificuldades da altitude.
Libertadores
“Quando estava prestes a ter o sorteio o pessoal não queria pegar time brasileiro. E eu estava louco para pegar algum brasileiro. Não é possível que de oito times brasileiros, não vai cair um no nosso grupo. Na verdade eu só não queria pegar o Flamengo”, acrescentou Vander ao falar sobre a expectativa do torneio no clube.
“Sobre a estreia na competição é uma sensação inexplicável. Olhei ao céu e só agradeci. Eu era um cara da Pavuna, zona norte do Rio, bairro humilde, família humilde, não realizei o sonho de jogar no Flamengo por conta dos meus próprios erros, eu errei. E Deus me fez dar a volta no mundo, em uma parte da carreira no qual tenho uma certa idade para pensar quando vou parar, se vou parar… e estar jogando assim em alto nível não tem preço. Tive a oportunidade de escutar três hinos das principais ligas mundias”, disse emocionado ao relembrar do primeiro jogo no torneio.
Sobre o primeiro duelo frente ao Internacional, o atleta contou mais detalhes da vitória e se disse surpreso com a postura da equipe gaúcha na estreia.
“O Inter tinha acabado de golear antes de enfrentar a gente e isso começou a impactar o pessoal de fora. Chegou um treinador novo pra gente, o Omar Assad, e ele já ganhou Libertadores como jogador. É experiente. Ele conseguiu dar uma esperança para nossa equipe. E já havia trabalhado aqui no passado. Foi uma celebração imensa após a vitória. Naquele momento foi que percebemos que podíamos chegar mais longe. O fator altitude bateu muito no psicológico do Internacional. Eles não quiseram propor o jogo. Me surpreendeu o Inter não querer jogar”, afirmou Vieira.
Religioso, questionado sobre sua expectativa no duelo no Beira Rio, o atleta afirmou que paciência e inteligencia será fundamental, e utilizou exemplos da bíblia para falar do duelo.
“Minha expectativa contra o Inter? É difícil falar. Se formos analisar o que o Inter tem feito em casa é ir pensando em não tomar muito – disse aos risos – Mas tem um lado positivo. É o Inter o time sempre pressionado da história. É o Internacional que tem que passar em primeiro, o que tem chance para ser campeão, o clube que tem um dos elencos mais caros da Libertadores. E nós somos o Davi. O clube que entrou no grupo como Davi. Vamos jogar para ganhar. Sendo inteligente. Acredito eu que tanto o Olimpia, quanto o Deportivo Táchira cometeram erros claros contra o Internacional na partida em Porto Alegre que não podemos cometer. A paciência e a inteligencia são determinantes para o jogo. A partida vai ter um gosto diferente porque eles perderam da gente aqui”, analisou o atleta.
Mercado brasileiro
Quando foi perguntado sobre o tema, o jogador se mostrou aberto na possibilidade de voltar ao país de origem após tanto tempo fora.
“É uma realidade. Não sei o tempo se é agora ou mais tarde, se fico aqui ou vou embora. Futuro a Deus pertence. Estou feliz aqui, realizado, sou muito grato pela oportunidade que o clube me deu. O treinador, presidente, todos. Estou com o leque aberto, o futebol é uma caixinha de surpresas. Estou preparado e o Brasil é uma possibilidade“, finalizou.