Resposta Histórica: o Vasco e seu centenário ato maiúsculo

Racismo. Preconceito. Discriminação. Palavras cada vez mais abordadas no futebol e sociedade atuais. Porém, que datam de tempos imemorais no Brasil onde um movimento fundamental do Vasco veio mais do que como resposta. Assim, surgia a Resposta Histórica. Uma resposta, aliás, que faz 100 anos de história neste domingo (7).

O momento era de estabelecimento do esporte no país. Porém, apenas quando o assunto era a elite. Principalmente, os burgueses. Os capazes de grandes aportes financeiros que, convenientemente, se confundiam com aporte em qualidade. Em qualificação. Com isso, querendo desqualificar quem não integrava essa faixa social.

Fundamentalmente formado por negros e a força operária de baixa renda, o Vasco vencia. Apontava como baluarte do que, hoje, conhecemos como esporte ‘do povo’. Para o povo. Com o povo se congregando ao redor de rádios, televisões, computadores, smartphones. Aquele que só descontroi preconceitos.

Porém, o preconceito velado de moral e bons constumes mostrou sua face mais cruel. Desse modo, para integrar a Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA), lhe foi pedido a exclusão de atletas pretos do seu escrete.

O Vasco, no espírito de luta que o forjou, construiu a Resposta Histórica. E o resto, mais do que história, se tornou um verdadeiro marco.

Veja abaixo, na íntegra, um documento que precisa ser eternamente reverenciado. Pelo esporte. Pela sociedade. Contra o racismo. E com o respeito, inclusive, as normas da língua portuguesa vigentes na época.

Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.
Officio No 261
Exmo. Snr. Dr. Arnaldo Guinle,
D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos.

As resoluções divulgadas hoje pela Imprensa, tomadas em reunião de hontem pelos altos poderes da Associação a que V. Exa. tão dignamente preside, collocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada, nem pelas defficiencias do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa séde, nem pela condição modesta de grande numero dos nossos associados.

Os previlegios concedidos aos cinco clubs fundadores da A.M.E.A., e a forma porque será exercido o direito de discussão a voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.

Quanto á condição de eliminarmos doze dos nossos jogadores das nossas equipes, resolveu por unanimidade a Directoria do C.R. Vasco da Gama não a dever acceitar, por não se conformar com o processo porque foi feita a investigação das posições sociaes desses nossos consocios, investigação levada a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.

Estamos certos que V. Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um acto pouco digno da nossa parte, sacrificar ao desejo de fazer parte da A.M.E.A., alguns dos que luctaram para que tivessemos entre outras victorias, a do Campeonato de Foot-Ball da Cidade do Rio de Janeiro de 1923.

São esses doze jogadores, jovens, quasi todos brasileiros, no começo de sua carreira, e o acto publico que os pode macular, nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que elles com tanta galhardia cobriram de glorias.

Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V. Exa. que desistimos de fazer parte da A.M.E.A.

Queira V. Exa. acceitar os protestos da maior consideração estima de quem tem a honra de subscrever.

De V. Exa. Atto Vnr., Obrigado.
(a) José Augusto Prestes
Presidente”