*Por Juliano Rangel
O futebol colombiano em verdadeiro celeiro de bons jogadores, que muito cedo embarcam com destino ao continente europeu, mas você sabia que o campeonato colombiano já foi a mais rico da América do Sul, contando com alguns dos melhores jogadores do continente? Pois é, essa história aconteceu entre o fim da década de 1940 e início da década de 1950.
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O ano era 1948, dez equipes de várias partes do país se uniram para promover o primeiro campeonato profissional da Colômbia. Logo no primeiro ano, a Liga Dimayor – como foi denominada – caiu no gosto do público, que lotava os estádios. O campeão daquela edição foi o Independiente Santa Fé.
Simultaneamente, na Argentina uma greve se instaurava devido à falta de pagamento aos jogadores dos clubes menores, levando o campeonato nacional a ser paralisado. A situação se contrastava com o ótimo momento do futebol colombiano, que já contava com grande aporte financeiro, muito por conta do sucesso da primeira edição da liga profissional.
Foi com esse cenário sem futebol na Argentina, que o então presidente do Millonarios de Bogotá, Alfonso Sênior Quevedo, teve a grande uma ideia, que transformaria a história da recém criada Liga Dimayor: contratar os melhores jogadores da liga argentina sem se preocupar com os gastos.
Sem muita modéstia, Quevedo logo contratou o então jogador do River Plate, Carlos Roberto Aldabe, que também acumularia o cargo de técnico do Millonarios entre 1949 e 1950. Logo após a sua contratação, o novo jogador instruir o dirigente de Los Millos a tentar a contratação de mais um atleta argentino que vinha atuando pelo Huracán: o atacante Adolfo Pedernera, que também treinaria a equipe entre 1950 e 1953.
Mesmo com os dois reforços, o dirigente colombiano não se deu por satisfeito e, meses depois, levou mais dois jogadores argentinos do River Plate para a Colômbia. Eram o meio-campo Néstor Rossi e o atacante Alfredo Di Stéfano, esse último chegou a recebeu um convite do Torino, mas a proposta da equipe colombiana era muito maior.
O próprio Di Stéfano em seu livro Gracias, vieja destacou os valores astronômicos que eram oferecidos pelos dirigentes colombianos. Eles pagavam dez vezes mais do que qualquer outra proposta da época, relembrou em sua obra o já falecido atacante argentino.
Além dos Millonarios, outras equipes movimentaram os mercados de transferências de vários países da América do Sul. As equipes do Independiente Medellín e Deportivo Cali resolveram apostar nos atletas peruanos, com destaque para o atacante Valeriano López que atuou pela equipe de Cali.
Em 1950, o Junior Barranquilla contratou os atacantes brasileiros Tim e Heleno de Freitas e, dois anos mais tarde, quatro jogadores húngaros. Entre 1950 e 1951, o Cúcuta Deportivo ficou conhecido como a seleção uruguaia, após contratar 17 jogadores da seleção celeste, com destaque para os campeões mundiais de 1950, Schubert Gambetta e Eusebio Tejera.
Com um plantel formado por dez argentinos, dois uruguaios, dois colombianos, um paraguaio e um peruano, o Millonarios foi campeão da Liga Dimayor nos anos de 1949, 1951, 1952 e 1953, além de ter conquistado a Copa da Colômbia da temporada 1952-1953 e a Pequena Copa do Mundo em 1953. Apenas em 1950, o título ficou com o Desportes Caldas, que tinha como goleiro o lituano Víctor Kriscuonas Vitatutas.
Os estrangeiros também dominaram as premiações de artilheiro durante os seis anos da liga. Di Stéfano foi o goleador do torneio nas edições de 1951 e 1952, totalizando 51 gols. Os argentinos Alfredo Castillo e Pedro Cabillón, também no Millonarios, foram artilheiros das edições de 1948 e 1949, com 31 e 41 gols, respectivamente.
O paraguaio Casimiro Ávalos foi o goleador da temporada de 1950, atuando pelo Deportivo Pereira, onde marcou 27 gols. Na última edição da liga em 1953, o argentino Mario Garelli, que atuava pelo Deportes Quindío, foi o artilheiro do torneio com 20 gols.
Modificações na liga
Desde a sua criação, a Liga Dimayor dividiu os clubes da Colômbia: de um lado as equipes menores da liga Adefútebol, que tinha o apoio da Federação Colombiana de Futebol e da FIFA, e do outro, as equipes que formam a nova liga, que tinha como proposta a profissionalização do futebol nacional.
Sem o apoio da cartolagem que comandava o futebol na Colômbia, durante os três primeiros anos, a Liga Dimayor passou a ser vista como irregular e foi apelidada de Liga Pirata. O campeonato tinha um regulamento próprio, que possibilitou, por exemplo, a vinda de vários craques do futebol sul-americano e até mundial para a Colômbia.
Em 1951, a Federação Colombiana de Futebol, com o objetivo de retomar o poder do futebol nacional, assinou um acordo com a Conmebol e a FIFA, no qual ficou definido que os jogadores estrangeiros que haviam sido contratados pela Liga Dimayor só poderiam atuar no país até o dia 15 de outubro de 1954. Depois desta data, os atletas deveriam retornar aos seus clubes anteriores sem nenhum custo.
Balé Azul
Com a parte burocrática da liga resolvida, o Millonarios contratou mais dois jogadores estrangeiros: os argentinos Antonio Baéz e Reinaldo Mourin, além do colombiano Hugo Reyes. Com uma verdadeira seleção, a equipe se tornou a principal do futebol nacional. Em entrevista ao jornal argentino El Gráfico, em setembro de 2011, o goleiro daquela equipe, Julio Cozzi, falou sobre aquele plantel que foi batizado pelo locutor Carlos Arturo Rueda de Ballet Azul ou, na tradução para o português, Balé Azul.
Quando jogávamos em Bogotá, ou quando disputávamos partidas contra o América ou a Santa Fé, as pessoas já vinham fazer fila no estádio às nove da noite para comprar ingressos de um jogo que só começaria às três da tarde do dia seguinte, destacou o ex-arqueiro de Los Millos.
Em 1952 a equipe realizou uma série de amistosos na Bolívia, Argentina, Brasil e Venezuela. O clube também excursionou pela Europa, onde enfrentou o Real Madrid durante as comemorações dos 50 anos clube espanhol. Em pleno Estádio Santiago Bernabéu, a equipe venceu o IFK Norrköping, da Suécia, por 2 a 1 e, na sequência, o goleou o clube merengue pelo placar de 4 a 2, com dois gols de Di Stéfano, um de Baéz e o último marcado por Castillo. Com os dois triunfos, o clube faturou o Torneio das Bodas de Ouro do Real Madrid. Relembre aquela vitória em Madri:
Ainda no continente europeu, a equipe venceu o Porto por 2 a 1 e empatou com o Valencia em 0 a 0. Naquele ano, o Millonarios ainda enfrentou o Real Madrid mais duas vezes em Bogotá, vencendo as duas partidas pelos placares de 2 a 1 e 2 a 0.
O quarto e quinto confrontos entre as equipes, que terminaram empatados pelo placar de 1 a 1, aconteceram meses depois, durante a Pequena Copa do Mundo. O Millonarios terminou na terceira colocação após ser derrotado pelo Botafogo por 2 a 0.
Naquele ano, a equipe ainda faturou a Copa da Colômbia e campeonato colombiano. Em 1953, o clube chegou ao título da Pequena Copa do Mundo, que também teve como participantes, o Espanyol, Rapid Wien e o River Plate.
Após esse título, aquele grande esquadrão foi perdendo seus jogadores. Di Stéfano foi negociado com o Real Madrid. A equipe ainda conseguiu fechar esse ciclo com a conquista do tetracampeonato colombiano daquele ano. O campeonato ficou marcado como o último que teve a participação das grandes estrelas mundiais.