Relação Lionel Messi e Barcelona: faltou orientação financeira?

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Foto: Javier Soriano/AFP

O mundo do futebol trouxe, no último mês de agosto, diversas surpresas relacionadas ao mercado de transferências. Surpresas essas onde uma das mais impactantes certamente foi a saída de Lionel Messi do Barcelona. Por impossibilidade de cumprir os regulamentos de LaLiga e por conta de sua dívida monumental, o clube da Catalunha foi forçado a deixar sair sua maior estrela.

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Messi deixou o Barcelona em uma conferência de imprensa cheia de lágrimas. Mesmo após sua rápida contratação pelo Paris Saint-Germain, poucos dias depois, o argentino ainda deixou algumas palavras para o time onde jogou mais de 20 anos, desde sua chegada durante sua adolescência.

É fácil compreender que o PSG, com o investimento bilionário de seu dono catari, Nasser Al-Khelaifi, seria dos primeiros a ter poder financeiro para pegar “La Pulga”. Porém, o mais difícil é entender como o Barcelona chegou nessa situação. 

Messi afundou o seu time?

Uma das linhas de explicação diz que a culpa está no próprio Messi, ou talvez em seu pai, Jorge, responsável pela negociação de seus contratos e salários. O argentino virou o centro da equipe e se tornou completamente indispensável. O clube não desistiu de atender às exigências de Jorge Messi, os pagamentos foram subindo cada vez mais e isso levou seus colegas a exigirem também aumentos salariais. Messi seria, assim, o culpado da situação, e sua disponibilidade para baixar o salário e ficar no time teria vindo demasiado tarde. 

O especialista Michael Moritz, em um artigo no jornal internacional Financial Times, discorda dessa atribuição de culpa. Para ele, a família Messi apenas reagiu a um estímulo de mercado; se alguém se sente com poder de negociação, deve negociar duro e olhando ao que entende ser seu interesse. É assim que funciona em um mercado aberto.

Além disso, Jorge Messi não era responsável pelo gerenciamento das finanças do Barcelona. Já bastava que seu filho fosse olhado como o “responsável” pelo sucesso esportivo da equipe. Claro que o coletivo era importante, porém a saúde financeira do time era responsabilidade de outros, não do pai da estrela máxima da companhia. 

O problema na perspectiva de um gestor de ativos financeiros

Moritz aponta quem seriam os verdadeiros responsáveis que permitiram, irresponsavelmente, que o Barcelona não negociasse pensando, também, em proteger seus próprios interesses. Segundo o especialista, tudo vem da falta de capacidade de gerenciamento financeiro blaugrana. 

O fato é que muitos times de futebol, mesmo ao mais alto nível, não sabem gerir seus ativos. São muito mais ativos na procura de novas fontes de renda do que na gestão do patrimônio. Atrair xeques árabes e oligarcas russos vem sendo um sucesso, tal como vem sendo também a expansão das apostas esportivas à nível mundial. Basta ver o êxito que as apostas vem ganhando no Brasil, onde não faltam códigos de bônus como o bet365 bonuskode para os usuários se cadastrarem. 

Moritz é bem claro: com tanto dinheiro envolvido, um jogador é um ativo financeiro, não um simples trabalhador, e deve ser gerenciado como tal. Na Juventus, a consciência desse conceito é clara: o valor que a Vecchia Signora pagou para contratar Cristiano Ronaldo não se justificou apenas por seus gols, mas também por sua marca e pela força de marketing que ela traria à Juventus. A partir do momento que o equilíbrio não se justificou, sua saída rumo ao Manchester United ocorreu sem maior resistência ou negociações que prejudicassem o andamento do clube economicamente e coletivamente falando.

Um ativo financeiro pode ter seu valor depreciado em função de várias condições. Quando um jogador se aproxima do fim de sua carreira, é inevitável que seu valor financeiro diminua. Não só por sua capacidade física ser menor ou porque sinais de decadência poderão surgir, mas também porque terá menos anos de valorização pela frente. É um pensamento cruel, mas é assim que funciona. Ninguém se deve surpreender. Afinal, os sistemas de segurança social modernos foram inventados precisamente para servir como proteção tanto para esse como para outros problemas. 

A solução: pagar em ações

A solução que Moritz propõe é desconhecida no futebol: pagar parte do salário em ações. O especialista indicou, inclusive, que isso é uma prática habitual em um dos grandes centros tecnológicos do mundo: O Vale do Silício. Ele também apresentou números, defendendo que tanto o time como o astro argentino estariam bem melhor se os salários tivessem sido pagos metade em dinheiro e metade em ações.

O Barcelona, segundo suas estimativas, valeria algo como 400 milhões de dólares em 2004, quando Messi chegou, e hoje vale cerca de 11 vezes esse valor. Uma pequena porcentagem dessa ações valeria uma imensa fortuna, o clube seria bem mais sustentável e Messi não teria agora de deixar o Barcelona e “obrigar” sua família a se mudar para França. Sendo de amplo conhecimento, aliás, que essa mobilização familiar foi um dos fatores que sempre levou o argentino a não querer sair da Catalunha. 

O Barcelona enfrenta tempos muito difíceis. Sua dívida levará muito tempo para ser equilibrada e é provável que o time deixe de contar como uma superforça do futebol europeu e mundial como foi nos últimos 15 anos. Talvez a situação sirva de exemplo e leve toda a indústria a pensar sua forma de atuação e, consequentemente, a aumentar o grau de profissionalização.

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