Nacional, conceitos, futebol brasileiro… saiba mais sobre Gustavo Morínigo

No próximo sábado (16), o Remo entra em campo pela semifinal do Campeonato Paraense onde enfrenta o Santa Rosa. Além de contar com uma larga vantagem de 3 a 0, construída no embate de ida, o confronto marca a terceira partida do técnico Gustavo Morínigo no comando do Leão Azul.

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Entretanto, para chegar no que é sua quarta experiência diferente no futebol brasileiro (passou antes por Coritiba, Ceará e Avaí), Morínigo experimentou uma situação bastante inusitada. Isso porque, logo após decidir pendurar as chuteiras como atleta, no Nacional (Paraguai), ele assumiu o desafio de treinar a equipe radicada na cidade de Assunção.

Para ele, aliás, esse conhecimento e relação mais profunda do elenco foi essencial para construir uma trajetória de notório sucesso no Tricolor. Além da conquista do Apertura local, em 2013 (com cinco rodadas de antecedência), a equipe chegou a sua primeira (e única) decisão de Libertadores no ano seguinte. Na época, perdendo a decisão para o San Lorenzo. A saber, ainda como atleta, ele havia levantado o troféu do Apertura em 2011, ano de sua aposentadoria.

“O Nacional é uma instituição que está no meu coração para sempre. Por muitas situações. Uma delas é conseguir ser campeão como jogador, depois de quase 70 anos. A outra seria pela oportunidade que me deram imediatamente de dirigir o clube como treinador. Por isso, é um clube fundamental na minha vida e na minha carreira. Tanto para o término da minha carreira como jogador como no ínicio da minha carreira como treinador. Foi muito bom e muito rápido. Eu parei de jogar e, em dois, três meses, já estava dirigindo a equipe principal. A minha estreia, aliás, foi na Libertadores, contra o Cruz Azul, no México”, relembrou em entrevista exclusiva ao Futebol Latino.

Valiosa vantagem

“A vantagem que eu tinha com esses jogadores era que, quando jogava, eu era capitão e uma espécie de ‘pai’ deles. Sou uma pessoa de característica muito transparente, direta, honesta. Sempre procurei construir essa confiança porque confiança não se cria. Ela precisa ser ganha através de ações e palavras. Com isso, criamos esse vínculo com as pessoas que foi muito forte desde o começo. E era algo ‘cego’. Saíamos para pressionar e saíamos para pressionar. Meu primeiro marcador era o meu centroavante. Eu conhecia muito bem aqueles rapazes, tinha uma gestão de grupo. Isso ajudou tanto na confiança como a fazer o time a jogar bem”, detalhou o profissional de 47 anos.

Ensinamentos valiosos

Sobre a campanha histórica na Liberta, Morínigo frisa que os confrontos com o então campeão vigente, Atlético-MG, trouxeram importantes ensinamentos além de um notório grau de confiança ao plantel:

“O Nacional nunca havia passado da fase de grupos e avançamos com a pior campanha, em 16° (dentre os qualificados). Com isso, tivemos de jogar com a melhor campanha, o Vélez Sarsfield. Depois disso, todos conhecem a história. Enfrentamos, naquele ano, o Atlético-MG onde empatamos em 2 a 2 no Paraguai e, no Brasil, no campo do América-MG (Independência), 1 a 1. Foram dois bons jogos e o Atlético tinha Ronaldinho e cia. Aquilo nos serviu muito, pois era um time muito unido. Muito trabalhador, consciente de que futebol é um esporte coletivo. O restante, vocês já sabem.”

Chegada ao Brasil

Constituída a ‘bagagem’ onde ainda passaria por Cerro Porteño, Sub-17 e Sub-20 da seleção do Paraguai e Libertad, o desejo por desafios cada vez mais ambiciosos (característica tanto profissional como pessoal de Gustavo Morínigo) o trouxe ao seu primeiro trabalho no futebol brasileiro.

Em janeiro de 2021, ainda sob a nuvem de incerteza da pandemia de Covid-19, ele assume o Coritiba, quase ‘condenado’ ao rebaixamento no Brasileirão que valia por 2020. Naquela oportunidade, aliás, ele frisa situações difíceis relacionadas ao planejamento e até mesmo ao preconceito quando de sua chegada:

“O planejamento do time já era estruturado para o ano seguinte pelo momento onde era praticamente impossível se salvar do rebaixamento naquele momento. Isso estava até no contrato, na verdade. E vou falar para você que não foi fácil porque o preconceito está em todo lugar. Imagine, um paraguaio dirigindo um clube do Brasil, algo que não acontecia desde os anos 60, algo assim. Não foi fácil no começo, também pelo idioma. Não pelo meu lado, mas pelo lado deles, algo que precisamos trabalhar. Mas fomos ganhando espaço através do trabalho, de conceitos, de amizade e de unir o grupo.”

“Na virada do ano (2020 para 2021), ficaram apenas seis jogadores e tivemos que separar os treinos dos jogadores que iriam apenas terminar os jogos na Série A e aqueles que iam disputar a Série B. Trabalhando em turnos duplos. Tanto por uma questão anímica como mental porque era um grupo que, mentalmente, estava muito ruim e outro grupo que estava apenas começando. Então, não podíamos juntar isso”, acrescentou Morínigo.

Situação inusitada e demissão por telefone

Passados exatos 100 jogos, a conquista do estadual em 2022 e um legado nítido deixado no Coxa Branca, a rápida passagem pelo Avaí foi precedida por uma ‘estranha’ situação no Ceará. Isso porque, com somente cinco derrotas em 24 partidas e com a Série B do Brasileirão recém-iniciada, ele foi demitido do comando técnico. Na época, ele havia também disputado e vencido o confronto de ida, na final da Copa do Nordeste, contra o Sport, por 2 a 1. O Vozão seria campeão daquela edição, na disputa de pênaltis, em Recife.

Nesse sentido, sobre os possíveis motivos de sua saída, Morínigo não tem dúvidas do que foi a grande causa. Entretanto, preferiu não mencionar nomes de maneira mais direta. Por isso, apenas apontou ter se tratado de ‘problema interno’ e ‘com uma pessoa que tinha poder’:

“Logo depois do jogo contra o Guarani, pela Série B, fui para o Paraguai, pois era aniversário do meu filho. E, antes mesmo de retornar, em uma ligação, nos demitiram, nos tiraram (do cargo). Naquele momento, fiquei chocado, não vou mentir. E não era um problema de relacionamento com o plantel, com o presidente. Eu, até hoje, troco mensagens com o presidente, com jogadores, os torcedores gostam muito de nós (comissão técnica). Era, na verdade, um problema interno e apenas com uma pessoa que, na época, tinha poder para fazer isso.”

Conceito fundamental e volta ao Brasil

Atualmente, Gustavo Morínigo tem a chance de atuar novamente no país o qual repetidas vezes ele menciona ‘o encantar’. Sempre tendo, como elemento basilar de sua filosofia, o trabalho voltado a parte humana do processo.

“Procuramos sempre trabalhar a mentalidade do jogador. É preciso saber que não se pode separar o jogador da pessoa. A pessoa é importante, o que ele sente e acredita é importante. E, para que você possa fazer um bom trabalho, você tem que o convencer. Nós trabalhamos muito essa parte do vestiário. Em todos os lugares que vamos (ele e seu corpo técnico), o primeiro que fazemos é formar um grupo, um conjunto”, concluiu.