*Por Agência Conversion
Todas as camadas do cotidiano foram impactadas de alguma forma pela pandemia de Covid-19, inclusive o futebol. Paralisado em março de 2020 e de volta aos gramados em agosto do mesmo ano, as partidas do calendário passado foram realizadas sem torcida, elemento que compõe a renda dos clubes e é um fator marcante no extracampo. Ao todo, os clubes da Série A do Brasileirão registraram um prejuízo de R$ 550 milhões de acordo com boletins divulgados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
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Em uma temporada em sua maior parte sem público, os clubes pagaram quase R$ 30 milhões apenas para entrar em campo com custos de viagens, manutenção do estádio, segurança, arbitragem, ambulância, entre outras coisas. Esses valores, porém, estavam dentro do esperado pelas equipes que sempre custearam a operação das partidas. No entanto, em outras ocasiões, eles são cobertos por arrecadação de ingressos, mensalidades de sócios-torcedores e cotas de TV que foram canceladas, diminuídas ou parceladas em 2020.
Entre os que mais gastam para conseguir entrar em campo estão Fluminense – R$ 186.422,90 gasto em média por jogo e R$ 3.355.612,27 em prejuízo anual – e Flamengo – R$ 190.255,34 na média por jogo e R$ 3.234.340,85 no total – que, além dos custos gerais, também precisam arcar com os valores do aluguel para jogar no Maracanã. Sozinhos, os dois times somam quase 25% dos gastos das equipes da Série A.
Logo em seguida aparecem Atlético-MG (R$ 1.843.989,01 no total) e Botafogo (R$ 1.804.140,33), que desembolsaram altos valores para a manutenção do Mineirão e do Nilton Santos, respectivamente.
Os valores, de forma individual, dependem da realidade do clube para se tornar um ponto prejudicial ou não. Isso porque, mesmo antes da pandemia, os times brasileiros já registraram alto endividamento.
Segundo dados de estudo financeiro feito pela rede de investimentos Itaú BBA, os clubes de futebol do Brasil fecharam 2019 com R$ 8,09 bilhões em dívidas. Na lista, Atlético-MG e Botafogo são os líderes, seguidos por Cruzeiro, Corinthians e Vasco.
Programas de sócio-torcedor
Em 2019, os clubes – em conjunto e somadas todas as competições em disputa – somaram R$ 526 milhões em receitas de bilheteria. Dentro desta conta, há os torcedores que aderem ao programa de sócios de seu clube do coração para ter acesso com exclusividade a ingressos e outros programas do time. Acontece que, sem a possibilidade da entrada de torcida nos estádios, a queda no número de sócios-torcedores foi de 50% a 60% de acordo com levantamento da Stadiumetric, empresa de inteligência analítica.
Essa renda normalmente é uma das mais seguras e garantidas aos clubes, e representa 14% das receitas dos grandes times brasileiros ao lado da bilheteria, segundo estudo financeiro do Itaú BBA.
Dia do jogo
Estar em um estádio vai além do jogo, na maioria das vezes. Dentro dos locais há bares, restaurantes e lojas do time. Todos os clubes lucram com parte das vendas de comidas e bebidas dentro de suas casas assim como os materiais esportivos como, por exemplo, tênis adidas masculino ou camisas da equipe adquiridas nas lojas.
“A maior parte dos clubes não está preparada para compensar esse problema no fluxo de caixa. A sua despesa ordinária não mudou, e você continua pagando os salários dos seus atletas, mesmo com desconto, e não está mais recebendo aquele dinheiro que era previsto. A maior parte dos clubes não vai ter caixa para pagar, porque a TV representa a maior parte das receitas e vai pagar mais tarde. E aí o time para de pagar ou se envolve em mais dívidas”, explica Pedro Daniel, da consultoria esportiva EY.