Existe uma parte da história do futebol no Brasil que é menos conhecida sendo ela a que diz respeito à inserção da mulher nesse “mundo” notoriamente masculinizado. Não há dúvidas que o número de mulheres atuantes no futebol brasileiro tenha aumentado quando comparado às décadas anteriores bem como são expressivas as conquistas que elas alcançaram no decorrer destes anos.
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Perspectivas históricas do feminino no futebol brasileiro
O futebol foi criado na Inglaterra no século XIX com indícios de práticas semelhantes há centenas de anos atrás. O processo de esportização do futebol levou-o a se espalhar pelo mundo, inclusive no Brasil, onde sofreu uma série de transformações que popularizou e massificou o esporte, integrando-o em nossa cultura e consolidando-o como o esporte “número um” da sociedade brasileira a partir da segunda metade de século XX.
Na época, a função da mulher era vista unicamnte como de contribuir para o fortalecimento da nação através da geração de filhos saudáveis e, para que isto fosse alcançado, era necessário que as mulheres preservassem a sua saúde. Portanto, o futebol feminino representava um “desvio de conduta” inaceitável aos olhos do Estado Novo e da sociedade.
No ano de 1965, o Conselho Nacional de Desportos (CND) regulamentou instruções para as entidades desportivas do país através da Deliberação nº. 07/65, proibindo a prática entre as mulheres do futebol, futebol de salão, futebol de praia, entre outros esportes.
Mesmo com esta proibição, muitas mulheres continuaram a praticar o esporte como era o caso, por exemplo, das empregadas domésticas cariocas que se encontravam no Leblon para jogarem e as atletas do Clube Federal que, inicialmente, praticavam outros esportes e, através de brincadeiras entre elas, começaram a praticar o futebol, tornando esta entidade o primeiro clube a implantar a prática do futebol feminino.
Surgimento do futebol feminino institucionalizado no Brasil
Constata-se que o futebol feminino institucionalizado iniciou-se em meados da década de 1980, pois esta prática começou a ter um pouco mais de reconhecimento. Foi em 1981 que surgiu um segundo clube de futebol de praia trabalhando com a categoria feminina: o Esporte Clube Radar, criado pela fusão de outras equipes de futebol de praia.
A partir de então, com o reconhecimento do futebol feminino pelo CND, a mídia passou a exibir os jogos, especificamente a Rede Bandeirantes, que detinha na época um grande espaço dedicado ao esporte e que, para preencher estes espaços, abriu oportunidades para o futebol feminino. Na época, uma iniciativa mais conduzida por interesses econômicos do que, necessariamente, romper com os valores sexistas.
Foi somente a partir dos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, que o futebol de campo feminino passou a ser considerado uma modalidade olímpica onde a Seleção Brasileira alcançou um ótimo aproveitamento na competição onde conquistou a 4ª colocação assim como nos Jogos Olímpicos de Sydney em 2000.
Considerações finais
É simples constatar que as mulheres, no decorrer da história, foram excluídas de algumas atividades sociais, como é o caso do esporte, na qual sua aceitação só passou a acontecer devido as lutas que muitas delas enfrentaram para que conseguissem alcançar esse e outros direitos.
No futebol, não poderia ser diferente, ainda mais por se tratar de um esporte que acostumou-se a contemplar, essencialmente, a força e a virilidade masculina, aspectos contrários à característica feminina.
Ainda hoje, as mulheres sofrem com as dificuldades e discriminações existentes para a inserção das mesmas no futebol brasileiro. Entretanto, a vontade de jogar ou o amor pelo futebol é mais forte que qualquer tipo de pressão ou discriminação social, seguindo cada vez mais o caminho da superação dos preconceitos em busca de igualdade.