*Por Equipe Conversion
Nascer na América Latina é, em partes, um facilitador para ingressar na cultura do futebol. Seja no Brasil, Argentina, Uruguai, Chile ou demais federações, as cenas de crianças jogando bola pelas ruas e escolas é frequente. Os uniformes, claro, têm as cores das seleções e são estampados com os nomes dos craques: Pelé, Maradona, Ronaldo, Neymar, Messi, entre outros. Contudo, mesmo com um laço forte com a modalidade, os latino-americanos permanecem de costas para o futebol feminino.
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O apontamento, já retratado por meio das diferenças entre tempo de transmissão, investimentos e pagamentos entre os atletas homens e mulheres, agora também será contada de forma literária. O livro “Futbolera: Uma História de Mulheres e Esportes na América Latina” traça as histórias de mulheres atletas e fãs enquanto navegavam nas pressões e possibilidades dos esportes organizados. Publicado pela Editora da Universidade do Texas em maio, aponta, especialmente, a situação das mulheres no esporte na Argentina, Chile, Brasil e México, mas também contextualiza sobre Uruguai, Costa Rica e El Salvador.
No primeiro livro sobre o tema, as autoras definem as normas de gênero e construção social como os causadores da disparidade entre homens e mulheres no esporte.
“Difícil imaginar um trabalho mais direto com crianças do que programas escolares que as ensinem a mover seus corpos”, escrevem Brenda Esley e Joshua Nadel na introdução em alusão ao controle exercido sobre os corpos de meninas e mulheres para que eles sigam o padrão estabelecido. A conexão acontece por conta dos frequentes contatos no futebol, que podem ocasionar lesões, e da necessidade de reforçar a musculatura, definindo o corpo da mulher de modo fora do comum.
Para construir o enredo e apresentar informações verídicas, as autoras fizeram pesquisas nas bases culturais e históricas das sociedades. Em 1800, a educação física surgiu na América Latina e, com a presença de praticantes e especialistas da área, houve o julgamento de tarefas mais adequadas às mulheres, como a natação, tênis, dança e ginástica.
Assim, as mulheres que desejavam praticar outros tipos de esportes, como o futebol, eram descaracterizadas e vistas como pontos fora da curva, aberrações e suas sexualidades eram colocadas em foco. As repressões contra as atletas foram determinantes para afastar outras meninas e mulheres do esporte, que perdura até os dias atuais.
Por conta desse afastamento, o futebol feminino foi e é precarizado na América Latina, detentora de 9 títulos da Copa do Mundo masculina e que, apenas em 2019, criou categorias femininas nos clubes participantes de torneios da CONMEBOL.
Avanços
Nos últimos anos, a categoria vem ganhando maior visibilidade. A última Copa do Mundo Feminina, em 2019, foi transmitida em canal aberto para o Brasil inteiro. Há dois meses, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) atendeu algumas reivindicações das jogadoras sobre pagamento igualitário e profissionais mulheres nas gestões das seleções.
Quanto aos patrocínios, com o aumento de times femininos, especialmente entre os clubes em destaque no país, como Flamengo, Corinthians e Santos, os investimentos também cresceram. Agora, além de camisas esportivas e tênis Nike masculino, a marca também foca seus produtos para as mulheres usarem.
Ainda assim, em termos de estrutura, o futebol feminino ainda vive uma realidade distante do masculino, especialmente em times com menos destaque nacional.