*Por Agência Conversion
Os organizadores da campanha que pretende levar a Copa do Mundo de 2026 de volta à América do Norte ofereceram no final de maio duas grandes propostas para angariar votos: Uma promessa de gerar um recorde de lucros para a Fifa em torno de US$ 11 bilhões (cerca de R$ 40 bilhões) e um compromisso por escrito de que os Estados Unidos vão garantir vistos aos espectadores dos jogos sem usar critérios religiosos ou nacionais.
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Essa última promessa, que os oficiais da campanha disseram já ter sido enviada à Fifa em uma carta no começo de maio, poderia tranquilizar os membros da entidade mundial temerosos de que a administração do presidente Donald Trump poderia bloquear a entrada de alguns dirigentes de associações filiadas.
A administração Trump, vale lembrar, bloqueou no ano passado as permissões de vistos para cidadãos de vários países, cinco deles majoritariamente islâmicos. A medida gerou reações no mundo todo e uma série de protestos em algumas cidades do país.
A Suprema Corte dos EUA ouviu argumentos orais em abril sobre uma terceira versão do bloqueio de entradas. Uma decisão dos juízes é esperada até o final deste mês, o mesmo em que os membros associados da Fifa vão votar pela sede de 2026.
Os EUA estão promovendo uma campanha em parceria com o México e o Canadá e contra o Marrocos, que apresentou sua candidatura em agosto de 2017. A Fifa vai anunciar o vencedor no dia 13, um dia antes da partida inaugural do Mundial da Rússia. Entre outros argumentos da campanha norte-americana, está a infraestrutura mais barata – muitos estádios remanescentes de 1994 e 1986 seriam reaproveitados – e a construção de arenas com características sustentáveis, como bombas de água que economizam uso e captação de energia solar.
O Marrocos reclamou à Fifa na semana passada após a entidade permitir que os Estados Unidos incluam quatro territórios além-mar na eleição que vai escolher a sede de 2026. A tática dos Estados Unidos é inserir quatro territórios administrados pela Casa Branca entre os votantes, já a federação estadunidense estará de fora: a Samoa Americana, a ilha de Guam, Porto Rico e as Ilhas Virgens Americanas.
No caso da primeira, seus habitantes são considerados cidadãos estadunidenses, enquanto as outras três possuem a maioria dos direitos da cidadania dos EUA. A hierarquia da Fifa, incluindo seu presidente, o italiano Gianni Infantino, é publicamente favorável à campanha de EUA, México e Canadá.
Recentemente, o presidente dos EUA, Donald Trump, se envolveu no conflito: Em um tweet em maio, ele afirmou que seria “vergonhoso” se países apoiados pela Casa Branca não votassem para que a Copa de 2026 voltasse à América do Norte.
Por outro lado, o ex-jogador francês Lilian Thuram, campeão do mundo com sua seleção em 1998, e que hoje é o principal nome de apoio da campanha marroquina, rebateu. “Quando eu penso sobre o que o esporte deveria trazer para nossas crianças é jogar dentro das regras, atuar limpo, Trump não está seguindo esse caminho. Ele está sendo dirigido por um ‘jogo de poder'”, afirmou. “Ele está tentando impor sua visão”, completou.
Além de Thuram, outros jogadores mundialmente conhecidos a favor da Copa no Marrocos são o espanhol Andrés Iniesta, do Vissel Kobe (Japão) que fez carreira no Barcelona, e o camaronês Samuel Eto’o, hoje no Torku Konyaspor (Turquia).
As promessas sobre o recorde de receitas e lucros e as medidas sobre os vistos foram enviados pelos três altos dirigentes da campanha: Carlos Cordeiro, da U.S Soccer, Décio de María, da Federación Mexicana de Fútbol Asociación, e Peter Montopoli, da Canadian Soccer Association. Elas também foram apresentadas durante um congresso internacional em Bruxelas, na Bélgica.
A projeção de lucros seria mais do que o dobro do que os torneios anteriores, em parte porque a Copa de 2026 vai ser a primeira com 48 países participantes e 80 jogos, uma expansão dos atuais 32 classificados e 64 partidas. A expectativa da candidatura é vender 5,8 milhões de ingressos, o que já seria um recorde. Para se ter uma ideia, a Fifa prevê receitas em torno de US$ 6,5 bilhões (R$ 22 bilhões) nas duas próximas Copas: na Rússia e no Catar, em 2022.
No mesmo evento da International Sports Press Association (AIPS) em Bruxelas, a candidatura do Marrocos fez sua apresentação afirmando que não conseguirá prover os mesmos lucros que a rival, mas procurando se promover por meio do seu status no futebol: Ao contrário do México (1970 e 1986) e dos Estados Unidos (1994), o país jamais foi sede de um Mundial de futebol na história. Até por isso, a campanha marroquina procurou ganhar apoio de algumas nações em desenvolvimento, além de se basear no “pouco armamento” da população como outra vantagem.
A última Copa que a seleção marroquina disputou foi a da França, em 1998, quando caiu no grupo do Brasil. O time não passou da primeira fase (empatou com a Noruega, perdeu para o Brasil e ganhou da Escócia). Os EUA não se classificaram para o Mundial da Rússia, mas estiveram no Brasil em 2014. O México, por sua vez, é figurinha carimbada nas últimas edições.
O Canadá, cujo futebol não é o esporte preferido da população, participou de um Mundial uma única vez: em 1986, no próprio México, saindo na primeira fase sem vencer nenhum jogo.
Até o ano passado, a imprensa cogitava que a China também apresentaria uma candidatura, que se tornou mais sólida quando a empresa estatal chinesa Hisense anunciou que seria uma das patrocinadoras da Copa da Rússia. À época, a liga de futebol do gigante asiático ainda não convivia com as novas regras, que limitam os gastos exacerbados em jogadores e técnicos da Europa e da América do Sul.