*Por Mônica Alvernaz
Ao visualizar o cenário no futebol de 50 anos atrás, a presença feminina era quase impensável. Felizmente, essa história vem mudando a cada dia e as mulheres são presença cada vez mais constante e relevante, dentro ou fora dos gramados.
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Neste cenário, que ainda tem nos homens a maior parcela, o jornalismo feminino vem ganhando força nos esportes de uma forma geral. No futebol, a presença das mulheres, seja como setorista ou realizando a análise tática em programas esportivos, é cada vez mais comum e nomes como Fernanda Gentil e Bárbara Coelho são referência para quem está começando.
Infelizmente, quando falamos de mulher no futebol, o preconceito ainda é figurinha carimbada. Por isso, buscando conhecer um pouco mais do universo feminino no jornalismo esportivo, o FL bateu um papo com três mulheres que dão o nome quando o assunto é futebol.
Fernanda Maia, que participa do programa SBT Esporte Rio e do De Primeira, na rádio Mix; Isabela Valiero, uma das apresentadoras do canal Tá Bela, que carrega mais de 30 mil de seguidores no Youtube; Luiza Sá, repórter do Lance que atualmente trabalha como setorista do Fluminense.
Durante o bate-papo, nossas entrevistadas deixaram claro que, apesar dos obstáculos, vale a pena sim seguir em frente e lutar por aquilo que se gosta e se sonha. Dentro de seus universos, Fernanda, Isabela e Luiza são exemplos na área e confirmam o que todos já deveriam saber: mulher entende de futebol, sim!
Como foi sua escolha pelo jornalismo esportivo?
Fernanda Maia – Eu sempre quis trabalhar com futebol. Eu tentei entrar como preparadora física, mas é um cargo que ainda não aceita mulheres. Acabei trilhando outros rumos e pintou uma oportunidade de ser gandula. Era um hobby apenas, porque eu atuava como professora, personal trainer, mas uma reposição de bola que eu fiz rápida, resultou em gol e título para o Botafogo e com a grande repercussão depois dali, surgiram oportunidades. Eu escolhi ser jornalista ainda pequena, mas o jornalismo esportivo praticamente me escolheu, temos um caso de amor recíproco.
Luiza Sá – Cresci amando futebol e acompanhando outros esportes, indo a estádios e torcendo desde criança. Sempre me vi contando histórias interessantes, mudando a vida das pessoas com as notícias e o jornalismo me deu isso. Trabalhar com esporte era meu sonho e acabei conseguindo unir essas duas paixões.
Isabela Valiero – A minha escolha pelo jornalismo esportivo foi meio que natural, eu sempre gostei muito de futebol e a partir disso a vida foi me levando para esse caminho. Eu me descobri jornalista esportiva, mas acho que sempre fui, desde quando brigava na sala de aula por causa de jogo.
Quais obstáculos você acredita serem os maiores para as mulheres que atuam nesta área?
Fernanda Maia – Obstáculos na área todos têm, mesmo os homens. Porque muita gente quer seguir nessa área. Mas o da mulher é um pouco maior, porque a gente ainda tá acontecendo nessa área. Algumas mulheres já abriram as portas pra gente que tá chegando agora, algumas já estão escancaradas, outras um pouco fechadas ainda, infelizmente. Você ainda se depara com pessoas que você precisa saber mais que o homem pra você mostrar que a mulher não tá ali de bobeira. Algumas pessoas ainda tem o preconceito de achar que a mulher não sabe de futebol, não pode saber de futebol, que a mulher que tá vendo futebol só vai ver se o cara é bonito, como é a roupa dele. O maior obstáculo é esse: pra algumas pessoas a mulher não pode e não sabe sobre futebol.
Isabela Valiero – Os maiores obstáculos para as mulheres trabalharem nessa área eu acredito que seja o machismo, que ainda infelizmente é muito frequente. Outro que também me incomoda bastante é ter que sempre se mostrar capaz do que você é no trabalho, sempre vai ter alguém te subestimando ou dizendo que você não entende nada, e ter que provar o contrário é muito cansativo.
Luiza Sá – Ser mulher na sociedade já é uma missão diária por todas as circunstâncias que nos cercam. No jornalismo, por ser um meio dominado por homens, os desafios são enormes. Sempre senti que deveria me provar o dobro dos meus colegas, que tinha que entregar mais para ser reconhecida na profissão. Além disso, é preciso aprender, infelizmente, a lidar com os olhares maldosos ou desconfiados e as frases em tom de brincadeira que acabam ofendendo. Sempre tento dar um toque nos colegas, mas o caminho ainda é muito longo.
Você já vivenciou alguma situação que percebeu preconceito por ser uma mulher atuando no jornalismo esportivo?
Fernanda Maia – Hoje eu percebo menos, mas no início eu percebia bastante. Uma frase que a mulher mais escuta é nossa, mas você sabe de futebol, num tom de espanto. Essas frases, a gente escuta bastante, o que não deixa de ser preconceito. Eu não cheguei a deixar de oportunidade em nenhum lugar por isso. Eu dei sorte de ter grandes chefes, que me respeitavam muito como mulher e profissional e abriram muitas portas pra mim. Dentro do mercado eu não senti, mas com homens que consomem esse mercado, esse é o preconceito que as vezes eu esbarro.
Isabela Valiero – Já vivenciei preconceito diversas vezes em estádio, principalmente por parte dos próprios torcedores, mas com entrevistados nunca tive problema nenhum.
Luiza Sá – Já ouvi piadas que me deixaram muito chateada. São coisas que parecem sutis, mas acabam machucando. Desde desrespeito com outras mulheres até coisas direcionadas a mim por pessoas que convivo todos os dias. Além disso, toda vez que vou aos estádios cobrir jogos preciso ter o triplo de atenção e relevar as situações ao redor. Já me senti intimidada de fazer meu trabalho e essa situação é inaceitável.
Que dica você daria para as meninas que estão pensando iniciar ou acabaram de entrar na área?
Fernanda Maia – A maior dica que eu possa dar é: leia. Tudo que você puder ler sobre: história, regra, informação, os jogos, enfim, tudo. Porque você por ser mulher acaba precisando mostrar que sabe mais que o homem, pra mostrar que você não tá ali porque é bonita ou pra ler uma rede social. Que você está ali pra dar a sua opinião, seja ela tática, técnica ou fisiológica, então você tem que estar preparada. A leitura pra mim é um exercício diário. Eu respiro futebol, o esporte em si, mas muito mais o futebol, 24 horas por dia. Então a minha dica é: leia. A gente que vive de dar informação e dar opinião, então precisamos estar prontas para responder qualquer pergunta.
Isabela Valiero – A minha dica para as meninas que estão pensando em seguir a carreira de Jornalista Esportiva é acreditar no seu potencial, pois não será fácil, e não baixar a cabeça com machismo. A sensação de realizar um trabalho que você gosta é incrível, então siga em frente e não se limite!
Luiza Sá – Vai fundo. Parece desanimador ver e ouvir todos esses relatos com tanto machismo na profissão, mas juntas nós podemos mudar esse cenário. Quando entrei no LANCE!, era praticamente a única mulher criando conteúdo e hoje temos uma presença cada vez maior. Temos um caminho longo e difícil pela frente, mas chegaremos lá!