Clubes seguem apostando em celebridades digitais para alavancar marketing

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Foto: Divulgação/EC Nova Cidade

Pensando em alavancar o marketing digital e movimentar as redes sociais, alguns clubes brasileiros saíram do comum e contrataram celebridades da internet, mais conhecidas como influencers, para fazer parte do elenco. Independente da habilidade com a bola, Jefferson Sales, sósia do Gabigol e apelidado de “Gabigordo”, assinou contrato com o Nova Cidade bem como o sósia do também flamenguista Vitinho. O clube, que disputará a segunda divisão do Carioca, pretende que ambos mostrem a rotina de treinos e bastidores do time no dia a dia em uma web série.

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Recentemente, um dos casos de grande repercussão foi a contratação do jornalista Lucas Strabko (mais famoso pelo apelido de Cartolouco) por parte do Resende para a disputa do estadual. No clube, o influencer investiu em vídeos de sua experiência como jogador profissional em seu canal oficial no Youtube com média de visualizações ultrapassando 600 mil. Outra atitude semelhante foi vista em dezembro de 2020 quando o São Bento anunciou Juninho Manella, que tem milhões de seguidores nas redes, com o mesmo intuito de alavancar o marketing na pré-temporada do time de Sorocaba.

No último domingo (9), o youtuber Casimiro, conhecido por jogar e fazer resenhas de futebol virtual, realizou uma transmissão na plataforma Twitch jogando FIFA e simulando uma final de Copa do Brasil entre Red Bbull Bragantino e Resende. Devido ao engajamento, visibilidade e repercussão, o time carioca abraçou a ideia, postando a exibição na página oficial do clube no Instagram. A transmissão ao vivo mobilizou milhares de internautas, tendo mais de 50 mil pessoas assistindo simultaneamente. Números esses jamais alcançados pelo Resende em qualquer rede.

Segundo levantamento da plataforma Social Blade, que contabiliza dados de páginas de redes sociais, o Resende ganhou cerca de 15 mil seguidores no Instagram desde a chegada do jornalista, atingindo a marca de 37 mil no total. Apesar do sucesso na internet, dentro das quatro linhas o efeito não foi o mesmo, tendo o término de contrato entre o clube e Cartolouco sem que o influenciador tenha atuado em nenhuma partida no último mês.

Para Renê Salviano, ex-diretor comercial, de marketing e novos negócios do Cruzeiro com mais de 20 anos de experiência no mercado, todo esse movimento se encaixa em uma verdadeira ação de marketing que pode beneficiar tanto os clubes quanto os influenciadores.

“É um ato de conexão com determinado público através do perfil de cada influenciador e, por consequência, aumento da base de seguidores dos próprios e dos clubes”, explicou.

Salviano compreende a importância dos clubes gerarem engajamento na web e pensarem no marketing, mas ainda vê com ressalvas este tipo de contratação.

“Ao tratar de um departamento profissional, eu discordo deste tipo de ação, a não ser que seja primeiro avaliado pelo nível técnico do atleta. O fato dele ser um influenciador agrega, porém, dentro dos indicadores de avaliação, nunca pode ser o primeiro da lista”, analisou.

O especialista ainda completa afirmando que existem formas de usar esses influenciadores para aprimorar o marketing do clube, não apenas como atletas.

“Eles possuem experiência comprovada em geração de conteúdo e podem criar em conjunto com o clube inúmeros projetos como webs éries, ações nos bastidores de jogo, com fãs e até mesmo cuidar da rede do clube por um dia”, acrescenta Salviano.

Marcelo Palaia, especialista em marketing esportivo, também acredita que essas ações de comunicação feitas pelos clubes ajudam a atrair mais seguidores para as redes sociais e impulsionam o lado digital:

“Toda a repercussão e engajamento na Internet é importante para as marcas nos dias atuais. Isso é algo que mobiliza as pessoas e o nome dos clubes passam a estar em evidência. Estão sempre em busca de milhões de seguidores”.

Para as equipes de menor expressão, o desafio de aparecer com notoriedade, seja nas redes sociais ou na imprensa, é grande. Sendo assim, a internet oferece uma possibilidade a mais para essas entidades pensarem em ações inovadoras e que chamem a atenção.

Na visão de Thiago Barros, gerente de conteúdo da Feng, os clubes que não têm tanto espaço no quesito de visibilidade precisam recorrer a outros caminhos.

“Hoje você não precisa necessariamente ter seu jogo transmitido na TV aberta para fazer barulho. Viralizar na rede pode ser muito melhor em determinados casos”, argumenta.

Barros entende que essas ações podem ser uma alternativa para enfrentar a crise provocada pela pandemia, uma vez que os clubes sofrem com ausência de bilheteria e redução de receitas.

“Infelizmente, o cenário atual não é de muitos investimentos, devido à Covid-19. Uma marca pode optar por seguir investindo no esporte, mas com cifras menores, e olhar para cases de clubes que têm essa conexão com alguma celebridade e o público da Internet como alternativas mais viáveis”, opinou.

O especialista cita a ação de marketing do Magnus Futsal, de Sorocaba, em conjunto com Fred, integrante do Desimpedidos, como a primeira bem sucedida que viu.

“Foi um baita conteúdo audiovisual e, com certeza, a repercussão foi bem positiva para os dois lados. Assim como foi a do Cartolouco recentemente. O futebol é um esporte, e o aspecto esportivo sempre deve ser a prioridade, mas ele também é entretenimento”, recordou.

A produção lembrada pelo especialista, que pode ser vista no Youtube, mostra a experiência do Fred entre os profissionais do Magnus Futsal. Em formato de reality show, saíram oito episódios entre abril e junho de 2020. O conteúdo alcançou mais de 8,5 milhões de espectadores únicos e bateu 27 milhões de visualizações.

Barros ainda conclui que, quanto mais esse lado for explorado pelos clubes, melhor para todos.

“Seja trazendo celebridades para o dia a dia do clube ou para ações esporádicas, como nas TVs e mídias sociais oficiais, o torcedor cada vez mais consome esse tipo de conteúdo. Em casos como os citados, as ações fazem até quem não torce para os times passar a ter um certo apreço ou pelo menos acompanhar para ver no que vai dar”, finalizou.

Apesar dessas campanhas serem consideradas positivas, pensando no aspecto do marketing, é preciso olhar para o outro lado da história e para quem também está envolvido nisso. Aos que dependem do futebol para sobreviver, esse tipo de ação pode não ser vista com boas intenções, seja pelos jogadores, membros da comissão técnica ou até mesmo pela diretoria. Neste caso, é plausível cogitar que os atletas possam se sentir desrespeitados?

Para Marcelo Segurado, diretor-executivo de futebol, com passagens por Goiás e Ceará, é preciso cuidado com essa nova iniciativa.

“Isso precisa ser levado para o Sindicato dos Atletas Profissionais. Estão desrespeitando um mercado de quem está nessa luta desde seus dez, 11 anos de idade, muitas vezes saindo de casa para buscar um lugar ao sol”, declarou.

O dirigente argumenta que esse tipo de ações de marketing precisam ser direcionadas aos jogadores:

“Se um departamento deixar de fazer campanha em cima dos atletas, que são as reais estrelas, ele fracassa. E o departamento de futebol também, pois não deu conta de contratar um jogador que possa dar um resultado melhor do que um comediante. Para mim, fracassa o departamento de marketing, o de futebol e a direção do clube.”

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