Entre ameaças de torcedores em aeroportos, centros de treinamento, invasões em gramados e ataques em redes sociais, o futebol brasileiro atravessa um momento de tensão, com muitos casos de violência em um curto intervalo de tempo. O Corinthians, recentemente, passou por um momento delicado em que os principais jogadores do elenco sofreram ameaças de morte nas redes sociais, entre eles o goleiro Cássio.
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Diante desses casos envolvendo os atletas do elenco, na última sexta-feira (22), o clube alvinegro emitiu uma nota oficial sobre o início da campanha “Futebol Sem Ódio”, iniciativa que visa se posicionar contra a violência e disseminação de fake news no futebol. Como uma medida de protesto, o clube não publicou conteúdo nas redes sociais entre as 10h da última sexta (22) e às 10h desta segunda-feira (25).
Além deste episódio, outros eventos lamentáveis seguem ocorrendo como, na última quinta-feira (21), um grupo da torcida “Furia Jovem”, do Vasco, enfrentou os jogadores e o técnico Zé Ricardo no Aeroporto do Galeão, cobrando a vitória diante da Chapecoense pela Série B do Campeonato Brasileiro. Os vídeos com as ameaças foram publicados na página do grupo nas redes sociais.
Muitas vezes, essa violência imposta pelos torcedores prejudica diretamente o rendimento dos atletas dentro de campo, além de trazer outras consequências mais agravantes. O volante Rômulo Caldeira, lateral direito do Cruzeiro e que atuou no futebol italiano por quase dez anos, acredita que o jogador, principalmente brasileiro, carrega responsabilidades além das quatro linhas.
“Vir de uma realidade difícil, de baixa classe social, traz a pressão de alcançar o sucesso por necessidade e exige do atleta rendimento absoluto em todos os resultados. Somado a isso, há o peso de render nos treinamentos, na disputa de posição, na performance apresentada nos jogos, as críticas das redes sociais, o bombardeio da imprensa quando se comete um erro e principalmente pela cultura imposta no nosso cenário”, analisou o jogador.
Neste mês, torcedores do Flamengo invadiram o gramado na partida contra o Atlético- GO, pelo Brasileirão. No dia anterior, as torcidas organizadas do time esperaram pelos jogadores em frente ao CT, cobraram resultados e direcionaram xingamentos a Marcos Braz, Vice-Presidente de Futebol do clube. Há aproximadamente um mês, os ônibus que transportavam os jogadores do Grêmio e do Bahia também foram alvos de atentados.
Para Luiz Henrique Martins Ribeiro, ex-presidente do Tubarão e especialista em direito desportivo, existe a necessidade de tratar com rigidez esses conflitos, com o intuito de evitar danos ainda maiores no futuro.
“A única forma de parar com isso é o clube perder pontos por atos de violência de membros de sua própria torcida e, em casos de ataques a ônibus, por exemplo, o imediato cancelamento da partida com a perda de pontos provisórios da equipe adversária, até se apurar os responsáveis. Isso que está acontecendo é muito grave e pode colocar em xeque a higidez do esporte. Afeta famílias, pessoas, como se o futebol fosse uma guerra. Ou se tomam medidas drásticas ou nada vai mudar, pelo contrário, (vai) piorar e quem deve tomar essas medidas é a justiça desportiva”, afirmou.
Em março deste ano, Alessandro Barcellos, presidente do Internacional, tomou uma postura diferente do usual entre os clubes brasileiros. Visando combater a violência dentro dos estádios, o mandatário levou à CBF um projeto para elaboração de um manifesto. No projeto, estava prevista a necessidade de estabelecer regras mais efetivas contra episódios de agressão, além do combate dessas práticas e medidas preventivas.
O manifesto apresentado à CBF possui dois objetivos claros. O primeiro é tratar de práticas mais efetivas de combate e prevenção à violência no futebol, com a criação de diretrizes viáveis de serem cumpridas, de acordo com o Estatuto do Torcedor e o Código Brasileiro de Justiça Desportiva. O segundo, que a FIFA participe e esteja presente com práticas de gestão estratégica, auxiliando os clubes e as federações com exemplos que já deram certo em outras ligas e países que conviveram por muitos anos com ações deste tipo, como a Inglaterra, por exemplo.