*Por Agência Conversion
A brincadeira dos torcedores rivais do Palmeiras com a falta de um título mundial do clube começou em 2012, depois que o Corinthians, seu arqui-inimigo, conquistou o troféu contra o Chelsea, em Tóquio, no Japão (vitória por 1 a 0). Antes, o São Paulo havia vencido o torneio ao vencer o Liverpool por 1 a 0, também na capital japonesa. O Santos venceu dois títulos mundiais em 1962 e 1963, contra Benfica (Portugal) e Milan (Itália), respectivamente.
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O assunto ganhou até a opinião dos grandes ídolos dos clubes de São Paulo: O ex-goleiro Marcos, por exemplo, disse em maio do ano passado que o Palmeiras, para ele, não é campeão do mundo – e por causa dele. Em 1999, o Verdão conquistou a Copa Libertadores da América e viajou ao Japão no final daquele ano para enfrentar o Manchester United, mas perdeu por 1 a 0 depois de uma falha do arqueiro.
“Eu estava bem demais em 1999, mas sabe como é goleiro, né? Disputei o Mundial de Clubes e a Copa do Mundo. Copa é tão tensa quanto, mas é importante que tem sete jogos, três no mínimo. Se você falha no primeiro, tem o segundo para fazer algo. O Mundial era um jogo, velho. Errei bem ali, e o Palmeiras não tem Mundial por minha causa mesmo”, disse em entrevista ao Canal Desimpedidos.
Naquele mesmo mês, durante um evento na China, o ex-atacante Ronaldo foi perguntando sobre o título do clube paulista e, para risadas dos presentes, respondeu: “O Palmeiras não tem Mundial”. Vale lembrar que ele encerrou a carreira no arquirrival do Palmeiras, o Corinthians, cujo primeiro gol foi marcado, justamente, num clássico contra o Verdão em Presidente Prudente.
Apesar das brincadeiras, o Palmeiras se apega na entidade máxima do futebol para afirmar que já conquistou o mundo: Em 2014, durante reunião do conselho-executivo da Fifa, em São Paulo, um dos julgamentos dos deputados foi sobre um processo protocolado pela CBF que pedia o reconhecimento da Copa Rio, disputada em 1951, no Rio de Janeiro, com a primeira competição mundial entre clubes. Em um documento que precisou de tradução juramentada posteriormente, a Fifa reconheceu a conquista palmeirense.
A Copa Rio
A Copa Rio foi organizada pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD), que deu lugar à atual CBF, um ano depois do fracasso da Seleção Brasileira na Copa do Mundo disputada no Brasil. A ideia original, segundo os jornais da época, era reunir os campeões mundiais daquele ano para amenizar a derrota para o Uruguai, no Maracanã. Para selecionar os representantes do país, a CBD convidou o Palmeiras (campeão paulista), e o Vasco (campeão carioca), porque ainda não existia uma competição nacional no futebol brasileiro.
Além deles, vieram ao Brasil a Juventus (Itália), o Nice (França), o Áustria Viena (Áustria), o Nacional, o Estrela Vermelha (Sérvia) e o Sporting (Portugal). São Paulo e Rio de Janeiro foram as duas sedes, com os respectivos campeões estaduais encabeçando os grupos. Eles se enfrentaram nas semifinais, com uma vitória (2 a 1) do Palmeiras no primeiro jogo, no Rio, e um empate sem gols na volta, em terras paulistanas. Com isso, o Verdão se classificou para enfrentar a Juventus na grande decisão.
No primeiro jogo, o Palmeiras de Dema, Ponce de León e Liminha venceu o time italiano por 1 a 0. No segundo, no Maracanã, 116 mil pessoas viram o empate em 2 a 2 e a consequente conquista palmeirense.
“A Copa Rio, que não foi jogada apenas em 1951, foi um torneio internacional que reuniu clubes de vários países sem um critério bem definido. Assim como a Copa Rio, aconteceram vários torneios internacionais de bom nível, como a Pequena Taça do Mundo na Venezuela, ao longo dos tempos. Não creio que esses torneios tenham um peso de Mundial, pois, mais do que não terem uma chancela oficial da FIFA, não contam com critérios claros para seus participantes”, opinou o comentarista Rodrigo Bueno, da Fox Sports.
“Não havia ainda campeões continentais até os anos 50, tudo funcionava na base de convites, e muitas vezes os melhores times ficavam de fora. Estes torneios têm um certo caráter festivo, amistoso, são muitas vezes torneios de pré-temporada, de preparação. A Copa Rio, por exemplo, serviu muito para celebrar o Maracanã efetivamente terminado, uma vez que na Copa de 1950 ele estreou ainda sem estar totalmente pronto. E a Copa Rio também serviu para resgatar a autoestima do futebol brasileiro, só que não teve impacto mundial”, completou.
Polêmica
O assunto sobre o título do Palmeiras se arrasta desde 2006, quando a diretoria palestrina enviou um pedido à Fifa pedindo que a entidade considerasse a Copa Rio como um Mundial. Sete anos depois, o ex-secretário-geral da entidade, o francês Jérôme Valcke, enviou uma carta ao então ministro dos Esportes brasileiro, Aldo Rebelo, reconhecendo o troféu mundial do Palmeiras. Em 2014, em outro anúncio do então presidente da instituição, o suíço Joseph Blatter, houve novamente a concordância com o título da Copa Rio. No entanto, o Palmeiras não aparece na galeria de campeões mundiais no site da Fifa.
Há dois anos, a polêmica voltou a esquentar quando a Fifa afirmou, em um comunicado, que só considera campeões mundiais os clubes que venceram o torneio organizado por ela a partir de 2000 – naquele ano, o Corinthians venceu o campeonato disputado no Rio de Janeiro. Assim, a nova decisão excluiu os títulos mundiais de Flamengo, Grêmio, Santos, Palmeiras e São Paulo.
“A Fifa faz o que lhe cabe, apenas reconhece e autentica torneios e premiações que ela organiza. Isso serve para tudo. Houve Mundiais de futebol de salão e de Beach Soccer antes de a Fifa assumir essas modalidades, por exemplo. A Fifa só conta os Mundiais desde que ela assumiu. (…) A máxima entidade do futebol, até por razões financeiras, quer ter o controle de tudo que se refere ao futebol, mas quase nunca ela é pioneira na organização das disputas. O futebol, aliás, nasceu bem antes da Fifa”, sentenciou Bueno.
Assim, a pergunta continua no ar: o Palmeiras tem Mundial?
