*Por Agência Conversion
A Copa do Mundo feminina da França, em 2019, já entrou para a história do futebol feminino. O torneio, que teve início na última sexta-feira (7) com a estréia da seleção francesa contra a Coreia do Sul, em Paris, é a oitava organizada pela Fifa, mas a primeira a reunir tantos fatores expressivos da luta das mulheres por reconhecimento.
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As mudanças aparecem, por exemplo, nos patrocinadores, de três para 18, ou nos contratos de transmissão, que vão cobrir os jogos para 135 países – a Fifa estima que 1 bilhão de espectadores assista às partidas em todo o globo. Das 24 seleções participantes, três são sul-americanas: o Brasil, a Argentina e o Chile, na disputa por um prêmio final que também dobrou da última edição para esta: US$ 30 milhões – ainda que longe dos US$ 440 milhões que o vencedor da Copa do Catar, em 2022, vai ganhar.
Todos os jogos das semifinais e a final, além da partida inaugural que contou com público maciço, tem ingressos esgotados. Em abril, a organização anunciou que havia vendido 720 mil ingressos para a Copa feminina – uma cifra recorde na história. O primeiro jogo, entre francesas e sul-coreanas, aconteceu para um público de 47 mil pessoas no Parc dos Princes, casa do Paris Saint-Germain, na capital do país. A decisão será no Parc Olympique Lyonnais, em Lyon, para 59 mil espectadores.
A seguir, o Futebol Latino conta o que se pode esperar das outras duas seleções sul-americanas além do Brasil:
Argentina
A Argentina não terá uma tarefa fácil em sua terceira Copa do Mundo feminina da história – depois de 12 anos de ausência (esteve nos Mundiais de 2003 e 2007) e com um passado recente marcado pelo esquecimento e pela reconstrução. Até 2018, o time sequer existia – deixou de ser organizado depois dos Jogos Pan-Americanos de 2015, e só foi refeito para participar às pressas da Copa América do ano passado, que deu vaga ao torneio na França.
Com o experiente treinador Carlos Borrello (em sua terceira Copa), a Argentina chegou a França com uma série de amistosos e a rodagem de uma única temporada de preparação. O técnico aposta em uma mistura entre jogadoras locais ainda amadoras e outras que já atuam profissionalmente no exterior.
Como a base do time que disputou a Copa América, é provável que mantenha o mesmo esquema: uma linha de quatro defensoras, um meio-campo formado por duas volantes e uma meia mais avançada – a craque do time, Estefanía Banini – e três atacantes, sendo uma centroavante.
Os nomes mais experientes da seleção argentina são a zagueira Ruth Bravo, do Tacón (Espanha), a meia Banini, do Levante (Espanha), a meia Florencia Bonsegundo, do Sporting Huelva (Espanha) e a atacante Soledad Jaimes, finalista da Champions League feminina com o Lyon (França). Entre as grandes jogadoras do futebol local estão a meia Lorena Benítez, do time de futsal feminino do Boca Juniors e a meia Mariana Larroquette, do UAI Urquiza.
A possibilidade de uma boa campanha na França é um incentivo das atletas que querem impactar um país ainda engatinhando na modalidade. A Argentina não tem uma liga profissional de futebol feminino e sequer tinha dinheiro para pagar todas as passagens da delegação, o que gera não apenas reveses constantes da seleção nos campos como um estigma que vem se tornando cada vez mais forte no país – que se colocou na vanguarda da luta pelo direito ao aborto no ano passado, por exemplo.
Pelo que se vê na imprensa argentina, o país nunca esteve tão mobilizado para assistir sua seleção feminina, que estreia na competição na segunda-feira (10), às 13 h, contra o Japão, no Parc de Princes. No Grupo D, a Argentina ainda enfrenta a Inglaterra, na sexta-feira (14), no Stade Océane, em Le Havre, às 16h, e finaliza a fase inicial contra a Escócia, na quarta-feira (19), novamente na arena parisiense, às 16h.
Quem assistir aos jogos da seleção argentina precisa ficar especialmente atento à meia Banini, de 28 anos: capitão da Albiceleste e uma das atletas mais experientes, com passagens por Colo-Colo, Washington Spirits e Valência (Espanha), a estrela do Levante é chamada na Espanha de “La Messi”, uma referência ao astro do Barcelona e da seleção masculina – ela já disse que não gosta do apelido, porque prefere que as mulheres sejam reconhecidas por nomes também femininos.
Chile
A base da seleção chilena para a inédita participação em um Mundial é a mesma que o técnico José Letelier usou nos últimos anos em competições sul-americanas: as 23 jogadoras convocadas já vestiram a camisa da Roja ao longo de seu período no comando do time, desde 2015 – ele foi campeão da Libertadores feminina com o Colo-Colo em 2012. A volante Ana Gutiérrez, lesionada durante o amistoso contra o time alemão Ingolstadt, na quinta-feira (6), na Alemanha, é a única baixa: ela deu lugar a Fernanda Pinilla, do Córdoba (Espanha).
O Chile, capitaneado pela goleira e estrela do PSG (França), Christiane Endler, caiu no chamado “grupo da morte” da Copa do Mundo feminina, ao lado das atuais campeãs estadunidenses, além da poderosa Suécia e da Tailândia. A estreia será na terça-feira (11) contra as suecas, em Rennes, às 13 h, enfrenta os EUA no dia 16, em Paris, e as tailandesas no dia 20, novamente em Rennes.
Além das atletas, uma chilena estará na França sem a camisa Roja: María Belén Carvajal, árbitra da Fifa desde 2010 e uma das escolhidas pela entidade para apitar no torneio.
As jogadoras chilenas mais experientes são as zagueiras Carla Guerrero, do Rayo Vallecano (Espanha), e Javiera Toro, do Santiago Morning, a meia Daniela Pardo, do Unión la Calera e a atacante María José Rojas, do Slavia Praga (República Tcheca), todas com 31 anos, mas há jovens como Valentina Díaz e Javiera Grez, de 18 anos.
O grande nome, porém, é Endler: eleita melhor goleira do campeonato francês feminino, a atleta de 27 anos é a principal estrela do PSG, onde atua desde 2017 – os jornais chilenos afirmam que ela vai “jogar em casa”. Na Copa América do ano passado, ela teve atuações brilhantes contra a Colômbia (0 a 0) e contra a Argentina (goleada por 4 a 0).
“A classificação para a Copa era algo que a gente buscava há muito tempo, acho que quase dez anos. Foi um sentimento muito forte quando soubemos que estávamos classificadas. Nunca esquecerei aquela noite”, disse ela em entrevista ao site da Fifa.
Ela também afirmou nesta semana que vai torcer muito pelas seleções sul-americanas durante o torneio: “Espero que todas estejam bem e que o futebol sul-americano cresça. É importante que as seleções sul-americanas tenham bons resultados para que os investimentos continuem no futebol feminino do continente”, completou.