Atacante dos EUA dá impactante entrevista sobre o racismo

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Foto: AFP

Em uma entrevista bastante honesta e direta dada pelo atacante Jozy Altidore ao portal Bleacher Report, o jogador com experiência no futebol europeu disse já ter perdido as contas de quantas vezes foi alvo de ofensas racistas em sua carreira.

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Para exemplificar sua afirmação, Jozy chegou a mencionar situações envolvendo o período tanto em que ele já defendia sua atual equipe, o Toronto FC, como também o AZ Alkmaar (Holanda) em um de seus times na trajetória pelo futebol europeu:

“Se eu tivesse que adivinhar quantas vezes eu fui parte de algum tipo de ofensa racista, eu não seria capaz, pra ser bem honesto. Facilmente mais de 100, 200, 300 vezes… isso é algo muito normal em várias partes do mundo. Por exemplo, no México se alguém te chama de macaco, isso é diferente porque é algo normal e você aprender a bloquear isso. Mas, quando tratamos de milhares de pessoas no estádio, fica difícil de você bloquear porque é outro elemento no jogo.”

“Em 2018, eu estava no Toronto e fomos jogar contra o América pela Liga dos Campeões da CONCACAF. (…) Não lembro se foi antes ou depois de uma refeição do time, meu telefone estava explodindo de mensagens de torcedores do América, coisas como ‘Você vai perder’, ‘Espero que tenha uma péssima estadia”, coisas do tipo. Porém, no fim, recebi fotos de um torcedor com uma arma apontando pra própria cabeça com a legenda ‘Negro de merda’. E isso (as palavras) nem foi o pior porque já estou acostumado a ouvir isso quando se joga na CONCACAF. É normal ouvir essas coisas, o que mais me assustou foi a arma, a segurança dos meus companheiros”, descreveu o atleta atualmente com 30 anos de idade.

Jozy chegou, inclusive, a fazer uma espécie de “mea culpa” sobre sua atitude quando passou pelo sério caso de racismo jogando no futebol holandês e teve a reação de tentar ignorar o fato:

“Jogando na Holanda em uma partida de copa contra um time chamado Den Bosch, uma bola foi lançada pra mim pelo lado do campo e, quando eu corri, comecei ao ouvir barulhos, algo que nunca tinha ocorrido comigo até ali. Eu pensei primeiro ‘Ah, acho que eles estão me vaiando’, mas quando eu peguei a segunda vez foi quando eu percebi através também dos meu companheiros falando sobre isso, até mesmo o árbitro, e percebi que era na verdade o som de um macaco. Claro, foi um momento difícil, mas na época eu estava tentando ganhar espaço no clube e deixei de lado. Mas, olhando para trás, eu percebo como aquele momento era significativo e se pudesse viver aquilo de novo, certamente eu tomaria outra decisão como, por exemplo, deixar o campo de jogo.”

Na análise do centroavante norte-americano, somente quando houver punições e ações concretas de demonstração que o combate ao racismo (ou mesmo injustiças como o caráter machista do esporte) realmente importam é que as coisas podem entrar no caminho da mudança:

“Eu não sei qual é a solução, mas quando pudermos ver que a FIFA vai punir casos como o jogador do Porto (Marega), do Balotelli, o meu, Boateng, ofendidos por um estádio inteiro, entende? Quando isso importar, acho que haverá um maior entendimento de como a FIFA estará tentando fazer o esporte se desenvolver. Mas eu acho que, em vários aspectos, a FIFA tem decepcionado nesse sentido bem como ela tem tratado o futebol feminino. As pessoas se espelham nessas empresas, então, se você vê essas pessoas se comportando assim, não ligando para as questões raciais, é isso que elas fazem também. Então, precisamos que a FIFA tenha uma posição, seja corajosa e faça a coisa certa. Enquanto isso não acontecer, as coias vão seguir do jeito que estão.”

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