*Por Lucas Lamounier
Há alguns anos, era impensável ver uma criança que se recusasse a vestir a camisa verde e amarela da Seleção Brasileira: todos faziam isso com muita naturalidade e orgulho, fazendo do item um sonho de consumo infanto-juvenil.
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Mas hoje em dia a história é bem diferente. Diversos fatores fizeram com que o entusiasmo pela Seleção diminuísse entre a população brasileira, e as crianças não ficaram de fora disso.
Mas por que os pequenos não têm mais tanto interesse pela Seleção? Listamos alguns motivos.
Grande exposição dos times de fora
Com a revolução social provocada pela televisão depois da metade do último século, vimos um fenômeno de mudança nos hábitos dos torcedores em âmbito nacional. Muitos, principalmente os mais novos e que ainda não haviam formado o amor por algum time, deixaram de torcer e acompanhar o clube de sua cidade e acabaram virando torcedores dos clubes com maior exposição na TV, o que explica a grande quantidade de torcedores de times do Sudeste em outras regiões do Brasil.
Hoje em dia acontece com os clubes europeus um fenômeno parecido, alavancado pela globalização e pela internet.
Com as redes sociais para acompanhar as novidades e as emissoras de TV transmitindo os campeonatos mais importantes da Europa, os clubes de lá acabam sendo mais expostos aos nossos filhos.
A qualidade das partidas pode até influenciar, mas isso se relaciona com muitos outros fatores: o horário dos jogos nacionais muitas vezes é ingrato para crianças e os times daqui sofrem com a instabilidade que o calendário do futebol nacional provoca. Mas se estamos falando de clubes, o que isso tem a ver com a Seleção Brasileira, que deveria estar acima disso?
Mau momento dos jogadores brasileiros
Se as crianças torcem por um time estrangeiro cheio de brasileiros, por que não gostar da Seleção? A atual geração de jogadores contribui muito para isso. Pense nas escalações brasileiras do começo dos anos 2000, provavelmente as últimas que nos trouxeram esperanças: todos os titulares eram grandes protagonistas em seus clubes.
Hoje em dia isso não acontece, todos são ofuscados por estrelas estrangeiras maiores. Dê uma olhada na seleção francesa, campeã do mundo: muitos jogadores são protagonistas em grandes clubes europeus. Isso explica porque antes mesmo de o mundial acontecer, a venda de camisas da França superou mundialmente o número do Brasil.
De acordo com Bruno Varela, do portal CANTINHODOSPAPAIS, um dos fatores que faz uma criança torcer ou não é a identificação que ela cria com os jogadores. E nossos filhos, assim como nós quando crianças, se identificam com os grandes craques. Se nenhum brasileiro é o grande craque dos clubes que elas estão acompanhando, não vai acontecer essa identificação.
Até para as crianças que ainda torcem por clubes brasileiros isso fica difícil, pois os nossos destaques estão sendo monitorados cada vez mais cedo pelos clubes de fora e com isso acabam terminando sua formação como jogador longe daqui.
Muito além das crianças
O fenômeno de abandonar a seleção brasileira atinge as pessoas de todas as idades, mas envolvendo outras motivações: o afastamento entre a seleção e o torcedor, preferindo fazer os jogos amistosos em outros países para gerar mais lucro para a federação, o alto preço dos ingressos e elitização dos estádios quando o jogo acontece em território nacional e, é claro, os resultados decepcionantes dos últimos anos.
Sabemos que um dos maiores motivos que faz uma criança torcer por um clube ou seleção é a influência dos familiares adultos. Mas se os adultos também estão aos poucos perdendo o encanto com a amarelinha, é melhor se preparar para ver cada vez mais crianças vestindo orgulhosamente camisas de outros países.