*Por Agência Conversion
Quando as Olimpíadas do Rio de Janeiro chegaram ao fim, em 2016, a meio-campista Formiga já tinha avisado suas companheiras de Seleção Brasileira que estava se aposentando das convocações. Aos 38 anos, deixava o time com seis Copas do Mundo e seis Jogos Olímpicos disputados, mas permaneceria atuando no Paris Saint-Germain, da França, onde é capitã até hoje – ela tem contrato até 2020.
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Vadão, então treinador da Seleção, porém, pediu para ela refletir melhor: disse que ela continuava em boa forma e que um nome como ela poderia ajudar não apenas em campo, mas na expansão do futebol feminino no Brasil. Formiga se convenceu, e acabou de disputar seu sétimo Mundial, na França, onde o Brasil caiu nas oitavas de final para a França (vitória por 2 a 1 na prorrogação). Em 9 de junho, durante a preparação, ela fez 41 anos.
A meio-campista, que agora se aposentou definitivamente da Seleção Brasileira e cogita pendurar as chuteiras completamente no ano que vem, se tornou a jogadora mais velha a jogar uma Copa do Mundo feminina durante a partida contra a Jamaica, pela fase de grupos. Também se converteu na segunda pessoa mais velha a disputar um jogo de Mundial (entre homens e mulheres), atrás apenas do camaronês Roger Milla, titular da seleção do seu país na Copa do Mundo de 1994.
Para o futebol feminino, Formiga é um totem: dos oito Mundiais femininos disputados na história, ela só não participou do primeiro, em 1991, na China. É a atleta que mais jogou Copas – entre homens e mulheres – de todos os tempos: sete. Esteve na Suécia (1995), nos Estados Unidos (1999 e 2003), na China (2007), na Alemanha (2011), no Canadá (2015) e, agora, na França (2019). Em Olimpíadas, foi a Atlanta, nos EUA (1996), Sydney, na Austrália (2000), Atenas, na Grécia (2004), Pequim, na China (2008), Londres, na Inglaterra (2012) e Rio de Janeiro, há três anos.
Além disso, é a atleta que mais vestiu a camisa amarelinha: 187 vezes.
Segundo ela, a decisão de participar do torneio na França também teve uma motivação ideológica: “Estava frustrada. Lutei tanto pelo reconhecimento do futebol feminino e queria que as condições fossem melhores para as mulheres, mas isso não tinha acontecido.”
Depois do jogo contra a Jamaica, em que a atacante Cristiane, de 34 anos, marcou três gols e se tornou a jogadora mais velha das Copas com tal façanha, Formiga voltou a tocar no assunto. “É difícil renovar o time. Eu, Cristiane, Marta, estamos indo, e precisamos encontrar substitutas. Necessitamos acelerar o processo para ter novas garotas, mas não vejo espaços para elas”, disse.
Formiga, na verdade Miraildes Maciel Mota, é o apelido que recebeu justamente pela forma como joga futebol: acredita sempre no esforço coletivo. Começaram a chamá-la assim quando já era adolescente em Salvador, na Bahia, onde jogava em clubes amadores. Foi um torcedor que começou a falar que ela era uma formiga em campo, se esforçando e trabalhando por todas as demais. “Eu não gostei muito no começo. ‘Eu tenho antenas, por acaso?’, eu pensava”, contou ela.
Nascida em família pobre, Formiga não conheceu o pai, que morreu quando ela tinha oito meses. Com quatro filhos, a mãe os criou sozinha. Aos sete anos, Miraildes (Mira para a família) começou a jogar futebol na rua com os meninos da vizinhança, já que não existia nenhuma liga ou campeonato amador feminino no Brasil nos anos 1980. Ela contou que seus irmãos não gostavam que ela jogasse futebol com os garotos:
“Eu tinha muitos problemas em casa com eles, ficavam preocupados. Agora são orgulhosos de ver a irmã sendo titular da Seleção Brasileira.”
A carreira só deslanchou quando ela foi vista por um olheiro que lhe deu as passagens de Salvador para São Paulo. Na Copa do Mundo da Suécia, em 1995, ela já estava entre as convocadas – aos 17 anos, era a mais jovem do time. Em 1996, foi a Atlanta, nos EUA, para as Olimpíadas (a primeira vez que o futebol feminino entrou no rol de esportes dos Jogos) e, desde então, nunca mais deixou de vestir a camisa da Seleção.