*Por Agência Conversion

Para os principais times de futebol russos, é quase como se o Mundial nunca tivesse acontecido. A seleção nacional fez uma campanha inacreditável até as quartas de final, mas os clubes do país brigam para continuar nas competições europeias nesta temporada.

O Spartak Moscou já saiu da Liga dos Campeões da Europa pelo grego PAOK enquanto o Zenit eliminou times da Bielorrússia e da Noruega nas qualificações para a Liga Europa. O Ufa estreou no torneio secundário europeu no final de agosto perdendo para os escoceses do Rangers em um jogo em que terminou com nove homens em campo.

A janela de transferências também foi lenta: Foram os dias em que o Zenit poderia gastar mais de € 80 milhões (R$ 385 milhões) para contratar o atacante brasileiro Hulk ou o meia belga Witsel, como aconteceu em 2012. Os bilionários, governos locais e companhias estatais que fundaram muitos clubes no país seguraram os gastos depois que uma queda no rublo fez os negócios estrangeiros saírem mais caros.

Alguns dos maiores nomes da liga russa deixaram o país neste ano, como a estrela da Rússia na Copa, Aleksandr Golovin, que trocou o CSKA pelo Monaco; o holandês Quincy Promes, que abandonou o Spartak pelo Sevilla, da Espanha; e o zagueiro italiano Domenico Criscito, que foi contratado pelo Genoa do Zenit.

Os gastos em transferências foram modestos, com os maiores clubes trazendo veteranos tentando reconstruir suas carreiras. Caso do uruguaio Abel Hernandez no CSKA, que ficou fora da convocação do seu país para a Copa, mais o alemão Benedikt Howedes, que venceu o Mundial de 2014 com sua seleção, e o polonês Grzegorz Krychowiak, emprestado do Paris Saint-Germain ao Lokomotiv.

“Nós perdemos muitos jogadores do topo nos últimos anos para outros países e ligas”, começou explicando Alexander Zotov, CEO da principal união de jogadores da Rússia, em entrevista ao jornal Moscow Times.

“Não estou dizendo que se deteriorou, mas o nível do futebol não cresce se você deixa grandes estrelas irem embora. Mas se eles procuram a atmosfera entre os torcedores, você pode ver as partidas jogadas em estádios lotados, os jogos mudam e eles dirigem toda a energia aos atletas, é realmente outro jogo”, completou.

Times provinciais na segunda divisão estão atraindo recordes de bilheteria em seus estádios imensos oriundos do Mundial, tipicamente torcedores que não puderam ir aos jogos do torneio disputado em julho. Há ainda uma série de turistas que, se não puderam ir à Rússia durante o evento de julho, agora voam para o país graças às passagens aéreas mais baratas.

Equipes de Volgogrado, Saransk e Nizhny Novgorod estão recebendo mais de 23 mil torcedores em seus poucos jogos da temporada, em alguns casos cinco ou 10 vezes mais do que a típica massa de torcedores. Em Kaliningrado e em Sochi, a imagem é menos colorida: Os estádios estão recebendo entre 10 mil e 8 mil pessoas.

O desafio agora é manter o ânimo da Copa durante o inverno, de forma que os estádios possam ser pagos com o dinheiro dos visitantes. Em Mordóvia, para atrair torcedores em uma das regiões mais pobres da Rússia, ingressos são vendidos por menos de 100 rublos (R$ 6), apesar de o estádio custar cerca de 260 milhões de rublos (R$ 15,8 mi) por ano em manutenção.

A instabilidade financeira tem sido uma longa característica do futebol russo. Isso foi sublinhado quando o FC Tosno, vencedor da última Copa da Rússia e um dos poucos clubes pequenos nas mãos de empresários privados, faliu um mês depois citando severos problemas financeiros.

Zotov diz que jogadores do Baltika Kaliningrado, um time da segunda divisão agora jogando em um estádio de Copa, reclamaram de falta de pagamento de salários e de bônus continuamente durante meses.

Apesar do Mundial, clubes de futebol não são uma prioridade para as companhias estatais e governos regionais que dominam o esporte, ele diz. “Há ainda alguns entusiastas e pessoas que trabalham. É uma questão de dirigir o clube corretamente e não fazer coisas loucas nem assinar contratos malucos”, diz.

Oficiais regionais contaram com a ajuda do governo para pagar pelas suas arenas, mas parece que os cantos já foram cortados em manutenções. As luzes se apagaram no novo estádio de Samara no mês passado porque a empresa que o construiu tinha alegadamente falhado em pagar as contas de eletricidade por meses seguidos.

Uma campanha de grupo fundada pelo presidente Vladimir Putin pediu uma investigação sobre por que um aterro no estádio de Volgogrado colapsou durante uma forte chuva no dia da final do Mundial, e por que o telhado de outro estádio vazou. Apesar das nuvens juntando partes do legado da Copa do Mundo, Zotov disse que é uma ótima ligação em como “vender” o jogo.

“A Copa é um campeonato que desenvolve interesse por si próprio porque todo mundo já ouviu sobre. Você se torna famoso. Ele domina tudo”, afirmou. “Se você tira a principal liga russa, você tem que trabalhar no desenvolvimento do interesse entre potenciais consumidores ou torcedores que viriam. Você tem que desenvolver uma história sobre os jogadores, a competição entre os times, explicar e ainda fazer os estádios um lugar bacana para visitar”, finalizou.

Jogadores latino-americanos

O Brasil é o país com mais jogadores registrados na atual edição da Premier League, a primeira divisão russa, com dez atletas. O mais famoso deles é o atacante Luiz Adriano, do Spartak, cria do Internacional e que jogou dois anos no Milan (ITA). Ele chegou a jogar na seleção brasileira com o então técnico Mano Menezes.

O brasileiro mais bem-sucedido no início do torneio, porém, é o lateral-esquerdo Wanderson, do Krasnodar, que já fez dois gols em seis jogos. Ainda estão na Rússia o meia Fernando e o atacante Pedro Rocha (Spartak), o zagueiro Rodolfo e os meias Ismael e Ravanelli (Akhmat Grozny), o também zagueiro Rodrigo Becão (CSKA), o defensor Nadson (Krylya Sovetov Samara) e o meia Hernani (Zenit).

Depois do Brasil, o país latino-americano com mais jogadores na Rússia é a Argentina, com quatro representantes do Zenit: o zagueiro Emanuel Mammana, o volante Matías Kranevitter, o meia Leandro Paredes e o atacante Sebastián Driussi.

Há ainda três venezuelanos (John Chancellor e Andrés Ponce, do Anzhi, e Wilker Ángel, do Akhmat Grozny), três uruguaios (Abel Hernández, do CSKA, Mauricio Pereyra, do Krasnodar, e Agustín Rogel, do Krylya Sovetov Samara), dois peruanos (Jefferson Farfán, do Lokomotiv, e Christian Cueva, do Krasnodar), dois equatorianos (Cristian Ramírez, do Krasnodar, e Christian Noboa, do Zenit) e um paraguaio (Lorenzo Melgarejo, do Spartak).

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