*Por Tiago Emanuel – Colaborador do Futebol Latino
El Salvador é o menor país da América Central, e seu futebol nunca foi referência de qualidade pelo mundo. Apesar disto, é do país caribenho um dos atletas estrangeiros mais respeitados na Espanha. Cádiz, uma pequena cidade praiana no sul do país, também nunca viu um clube seu ser campeão nacional. Talvez ambos fatores somaram-se para mostrar que a mágica do futebol latino não está em grandes cifras, acordos comerciais e conquistas relevantes. O belo de nosso futebol é a paixão, e um de seus expoentes é Jorge González.
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Ídolo em seu país natal, González chegou a Cádiz em 1982, logo após liderar El Salvador à segunda e última Copa do Mundo da história do país. A seleção foi eliminada com três derrotas, mas a classe de “Mago” González era percebida de longe. A bola parava em seus pés e ia onde a ordenava.
Tal habilidade foi percebida de cara no time amarelo do sul da Espanha. Titular, líder da equipe, e com um novo apelido: “Mágico”. A torcida não acreditava no que o franzino salvadorenho fazia com a bola. A cidade passou a ter González como tópico de conversa em todas as reuniões sociais. Cada nova exibição de gala, cada drible desconcertante, cada jogada inigualável era recebida com euforia pelas arquibancadas.
Mágico, porém, tinha dois lemas: jogar bola e curtir a vida. Jorge tinha o sonho de cada criança latina vivo em seu coração. Fazia a alegria de seu povo e da simpática Cádiz, mas não abria mão da vida noturna, das festas e bebedeiras. Dormia bem mais que seus companheiros e não era o mais frequente nos treinos do Submarino Amarillo. A diretoria ameaçava-o de demissão e punições, mas lá ia Mágico González dar seu show em campo e tudo terminava bem.
Os convites do Barcelona cessaram depois de inúmeros vôos perdidos por González, quando convidado para ir à Catalunha. Mas como diz uma tradicional música em Cádiz, Mágico poderia ter sido um jogador de glamour e fama, mas não quis. Deixou o futebol objetivo pela arte de jogar. Trocou a chance de ser o melhor do mundo pela idolatria de uma cidade, a ponto de virar lenda urbana em Cádiz. Uma delas diz que Diego Maradona teve o seguinte diálogo com um repórter:
-Dizem que você é o melhor jogador do mundo.
-Não, tem um que é melhor que eu. Se chama Mágico González e joga no Cádiz.
Talvez nunca teremos a confirmação desta história. Mas como lenda, Mágico González permeia o imaginário da pequena Cádiz, que o considera até hoje o maior da História. E, para Jorge, isto é mais do que suficiente.
Veja algumas jogadas da lenda de Cádiz: